27.12.18
4 - Modelismo Naval 1 - O Galeão S. João Baptista
marearte
Caros amigos
O meu avô por parte do meu pai era, segundo rezam os anais da minha família, construtor naval na Nazaré. Não o conheci. No entanto esta parte da história não deve estar bem contada já que penso que era carpinteiro naval e o construtor naval é um eufemísmo. Pelos anos 20 do século passado resolveu "emigrar" para Boston, nos States. Nunca mais disse nada nem voltou. Deixou à minha avò Elvira - que eu conheci - a tarefa de criar quatro filhos (eram cinco, mas um faleceu), com óbvias dificuldades. O meu pai, um nazareno de gema, contava histórias de sobrevivência da família "exemplares".
O assunto "avô" sempre foi tabú na família. O meu tio e padrinho, que foi figura grada na Nazaré - Presidente da Câmara, da Casa dos Pescadores, dos Bombeiros Voluntários, dono do Casino da Nazaré, estão a ver? - apesar de em determinada altura ter investigado o paradeiro do pai, nunca se descoseu por uma questão, como dizem na Nazaré, de "cagança". Era assunto que nunca se abordava. Faz de conta que tinha morrido e a minha avó era viúva. Qual é o segredo?
Pelo que me foi dado a saber ou melhor, pelo que intuí por conversas soltas sigilosas dentro da família, o meu avô continuou a trabalhar na construção de barcos, possivelmente desta vez baleeiros - já que se tratava de Boston, à época a grande base naval da frota baleeira norte americana - e terá constituído uma nova família. Tenho pena de nunca ter tido tempo para aprofundar este assunto. Chamo a atenção para o facto de Boston já ter recebido nessa época uma forte corrente imigratória dos Açores o que me leva a especular, sem estar muito longe dessa possibilidade, que a família que o meu avô constituiu, poderá ter sido possivelmete com uma parceira feminina açoriana.
Portanto temos um avô ligado à construção naval como carpinteiro naval, a viver em Boston, a ajudar a construír veleiros baleeiros, casado com uma açoriana e possivelmente com descendência masculina.
Durante a minha vida profissional viajei dezenas de vezes para os Açores, tendo permanecido em todas as ilhas do arquipélago com excepção do Corvo onde só fui uma vez durante uma permanência nas Flores. Isto levou a que adquirisse certos tiques de ilhéu entre eles, a permanente saudade do mar mesmo estando perto. Na minha segunda viagem ao Pico, visitei o Museu dos Baleeiros nas Lajes do Pico.
Durante a visita, dirigi-me à biblioteca onde me entretive a consultar uma série de documentação sobre a caça ao cachalote nos Açores, assunto que sempre me interessou - a grande saga da "Moby Dick" do Melville - e que, apesar de defensor da natureza, sempre considerei com o devido distanciamente histórico como heróico. Quando resolvi terminar a minha pesquisa por aquele dia e me virei para saír reparei que, por cima da porta de entrada da biblioteca - neste caso de saída - existia, e penso que ainda existe, uma fotografia que, vista à distância , me parecia de alguém que me era familiar.
Aproximei-me melhor e vi a fotografia dum homem, de cara magra, de nariz afilado e de pera farfalhuda e que dava ares do meu pai que usava barba completa embora não tão farfalhuda. Não era possível que fosse o meu pai ou melhor, era muito improvável.
Fiquei intrigado. A fotografia tinha uma legenda mas como estava por cima da ombreira da porta não conseguia lê-la. Fui buscar uma cadeira e empoleirei-me nela. Era a fotografia dum comandante baleeiro de Boston que se chamava não me recordo bem mas penso que era John, tinha mais dois nomes de que também não me recordo - e... Fidalgo, que é o meu nome de família do lado do meu pai!
A agitação que provoquei com o arrastar da cadeira e o "empoleiramento" chamou a atenção da responsável do museu que veio saber o que se passava. Depois de a pôr a par do que se passava, a senhora contou-me a história daquele comandante norte americano que tinha raptado a namorada açoriana nas Lages do Pico por volta dos anos 50 e tinha cometido um feito qualquer com o baleeiro que, embora me recorde mal, parece que foi o de entrar no porto das Lages do Pico com o baleeiro, coisa que me custou a acreditar pois o porto das Lages do Pico é tão estreito e de fundo baixo rochoso que acostar ao cais um escaler já é obra.
Sei que existem familiares dele no Pico mas, lamentávelmente, nunca me foi possível chegar à fala com eles, ou porque não estavam ou porque eu não tinha tempo.
Especulando - Seria filho do meu avô? Seria meu tio?
Assim, temos um comandante baleeiro norte americano, da praça de Boston, de nome Fidalgo que raptou e casou com uma açoriana com uma idade aproximada de 30 anos.
Penso que nunca saberei a verdade sobre estes laços familiares por parte do meu avô! No entanto toda esta história, embora muito especulativa, faz-me perceber a minha própria história que me empurra para tudo o que se ligue ao mar. A minha ascendência da parte do meu pai - e até por parte da minha mãe que tem raízes na Holanda - faz-me entender o prazer que sinto em trabalhar madeira, a beleza que admiro nas linhas dum veleiro, a profunda compreensão pela vida do mar.
E como não posso construír grandes veleiros, grandes caravelas, grandes naus, grandes galeões, construo as suas réplicas e navego nelas como os antigos marinheiros da navegação à vela, usando os mesmos astrolábios, as mesmas cartas portulano, comendo o mesmo peixe salgado, a mesma bolacha podre e até, partilhando os mesmos medos. Possivelmente fui, noutra encarnação, carpinteiro naval a bordo de uma nau e, numa das viagens, fiquei na Índia nos estaleiros de Cochim ou de Goa!
O modelo do Galeão Português S. João Baptista do séc. XVI
Este modelo estático que acabei de construír em 2006 também tem uma história. Originalmente era um Kit da Altaya (tenho de me lembrar de pedir uma participação pela publicidade) que fui comprando em partes e que guardava numa caixa (para montar quando tivesse tempo que era coisa que na altura não tinha), tendo falhado mais de metade das edições, ou porque me esquecia ou porque não estava cá. Mais tarde, quando tentei completar o kit já não consegui, tendo sómente conseguido uma fotocópia dos fascículos que me faltavam. O resultado foi ter ficado com os planos de montagem mas sem uma grande parte dos componentes o que me levou a desistir da construção. No entanto, fui tentando junto de outras lojas da especialidade adquirir os apetrechos que me faltavam (malaguetas, canhões, âncoras, etc.), o que fui conseguindo.
Tendo em conta que as primeiras entregas foram compostas pela quilha e pelas cavernas o que permitiu determinar a escala e a proporcionalidade de outros componentes do galeão e que noutras entregas vinha outro material que permitia também determinar a forma do que faltava consultando as fotografias dos planos, adquiri madeira e, com paciência, foi-me possível manufacturar os elementos em falta. Assim podemos dizer que este modelo é um híbrido entre um kit e um modelo geométrico. E o resultado é o que está documentado nas fotografias deste post.
As especificações do modelo são as seguintes:
- Galeão do séc. XVI
- Acabado de construír em 2006
- Escala aproximada - 1:100
- 24 peças de artilharia - 8 no convés principal (4 a Bombordo+ 4 a Estibordo) e 16 no convés superior (7 a Bombordo + 7 a Estibordp + 2 na Popa)
- Expositor em mogno e cobertura em acrílico com: Comprimento - 97 cm X Largura - 39 cm X Altura - 77 cm
Este modelo está à venda. O preço?
1.400,00 Euros (sem o expositor)
Uma visita guiada:
1 - O modelo no expositor com base em mogno e cobertura em acrilico
2 - Amurada de bombordo
3 - Amurada de estibordo
4 - Costado de bombordo - Popa
5 - Costado de bombordo - Centro
6 - Costado de bombordo - Proa
7 - Costado de estibordo - Proa
8 - Costado de estibordo - Centro
9 - Costado de estibordo - Popa
10 - Escada de Portaló, Portinholas e peças abocadas a estibordo
11 - Esticadores das Enxárcias
12 - Aparelho de fixação da âncora de bombordo
13 - Zona da cozinha e aparelho de fixação da âncora de estibordo
14 - Pormenor do Castelo de popa
15 - Proa por bombordo
16 - Proa por estibordo
17 - Varandim do castelo de popa
18 - Zona da engrenagem do leme
19 - Alavanca de ligação do leme
20 - Pormenores da carga no porão
21 - Mastro do gurupés
22 - Mastro do traquete
23 - Mastro real
24 - Mastro da mezena
25 - Acesso do convés ao castelo de popa, casinha do leme e cabrestante das âncora
26 - Batel de serviço, peças e reparos do convés superior e escotilha
27 - Castelo de popa
28 - Castelo de proa, acesso ao gurupés e mesas de malaguetas
29 - Cesto da gávea do mastro real
30 - Escada de acesso ao convés do lado de bombordo
31 - Fogão
32 - Mesa de malaguetas do mastro da mezena
33 - Mesa de malaguetas do real, escotilha e cabrestante das âncoras
34 - Peças abocadas e escada do portaló - Estibordo
35 - Pormenor do castelo de popa - estibordo
36 - Pormenor do castelo de popa - bombordo
37 - Porta do leme
38 - Zona de manobra do mastro do traquete
39 - Vista de popa
40 - Vista de proa
Como os outros produtos apresentados neste blogue, quem estiver interessado(a) na aquisição do modelo basta entrar em contacto com
mareartenautilus@gmail.com
Até à próxima e bons ventos.