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Mar & Arte

Artesanato Urbano de Coisas Ligadas ao Mar (e outras)

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Artesanato Urbano de Coisas Ligadas ao Mar (e outras)

04.01.16

21 - Modelismo Naval 5 - A Fragata do Tejo


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Caros amigos

 

 

O Tejo sempre foi considerado um dos rios do mundo com uma maior variedade de tipos de barcos tradicionais à vela.

Entre as várias embarcações de tráfego fluvial, as que mais tempo permaneceram ao serviço foram os varinos, os catraios e as fragatas, destacando-se estas últimas pela sua exclusividade ligada ao Tejo.

Até 1950 ainda se construíram fragatas e varinos, em estaleiros que se situavam principalmente na margem sul do Tejo em Cacilhas, Seixal e Alcochete sendo de mencionar que alguns foram construídos perto de Abrantes e em Aveiro.

Com a evolução dos transportes terrestres, estes tipos de embarcações deixaram de ser construídas e consequentemente, os carpinteiros de machado (dizem que era a profissão do meu avô paterno) e os calafates desapareceram na sua maioria, conservando-se alguns que ainda trabalham na recuperação e construção de alguns barcos em madeira. 

 

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O livro “Barcos do Tejo” de Estevão Carrasco e Alberto Peres (Edições INAPA - 1997. Um “manual” cheio de informações importantes, com a descrição dos diferentes barcos, desenhos, fotografias e pormenores técnicos imperdíveis. Um repositório para a nossa história e uma joia para os aficionados.

 

Até meados do século passado, ainda se podiam ver, navegando rio acima e rio abaixo, diversos tipos de barcos à vela, ou no transporte de pessoas e mercadorias ou na faina da pesca.

 

1-Fragatas na Doca de Alcântara-1912.jpg

 

Fragatas na doca da Alfândega, 1912 – Joshua Benoliel

Arquivo Municipal de Lisboa – Arquivo Fotográfico

2-Varina descarregando o peixa da fragata, na Ribe

 

Varina descarregando o peixe da fragata, na Ribeira Nova, [s.d.], anónimo, Col. Seixas

Arquivo Municipal de Lisboa – Arquivo Fotográfico

3-O Mercado da Lota, o peixeantes da licitação,

 

 O Mercado da Lota, o peixe antes da licitação, 1906. Joshua Benoliel

Arquivo Municipal de Lisboa – Arquivo Fotográfico

Toda esta actividade mercantil foi desenvolvida com base em barcos de madeira, à vela, tendo sido substituídos gradualmente por embarcações a motor que hoje, quase exclusivamente, povoam o Tejo, com excepção de algumas tradicionais recuperadas ou construídas de raiz, que são usadas na navegação de recreio.

As principais embarcações tradicionais que foram usadas no transporte de mercadorias e de pessoas foram os catraios, os varinos e as fragatas, categorias estas que ainda hoje ainda se veem a navegar no Tejo, em dias de vento fresco e de sol, principalmente arrimados à margem sul – de Cacilhas até Alcochete – nomeadamente na zona do Seixal.

Quanto à fragata, o seu aspecto em silhueta, é o que apresento a seguir:

 

 

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A silhueta da Fragata “Alcatejo” desenhada por Estevão Carrasco e publicada no livro “Barcos do Tejo” já referenciado.

 

Dizer alguma coisa sobre a fragata e da sua construção (real) não é coisa a que me atreva pois, apesar de contar na família com um avô que era “carpinteiro de machado” na Nazaré, ele só me passou o gosto e não a arte. Por isso, vou voltar ao livro “Barcos do Tejo” e citar Estevão Carrascão.

A Fragata “É um barco que existe unicamente no Tejo, tendo sido utilizada no transporte de mercadorias. Segundo a generalidade dos autores, as fragatas deslocam entre 10 e 100 t, mas existem barcos de tonelagem muito superior, que chegavam a ultrapassar as 200 t. (neste caso, são também conhecidas pelo nome de cangueiro – nota minha) Conforme as suas dimensões toma outros nomes: se pequena, designa-se por bote; se de dimensões médias, por falua.

De construção muito robusta e pesada, a fragata consegue, no entanto, navegar em águas pouco profundas, dado que é de pouca quilha e tem o fundo ligeiramente convexo entre o encolamento do costado e a própria quilha. O casco, sólido e muito sóbrio, é reforçado e protegido por dois verdugos, de secção retangular, chapeados a ferro nas faces exteriores. Estes verdugos são paralelos às bordas e o superior fica ao nível do convés da proa e da popa.

 A borda é reforçada tanto à vante como à ré por barbados e dela sobressaem dois cabeços à proa e outros três à popa, tanto a bombordo como a estibordo.

No convés da proa possui uma escotilha para iluminação e arejamento do compartimento inferior, um guincho para manobrar a amarra, dois cunhos para a escota do estai e a enora para enfornamento do mastro. Junto a esta fixa-se uma armação chamada boneca, com algumas malaguetas (em número de quatro ou cinco), destinadas ao retorno e volta dos cabos de manobrar as velas.

No convés da popa existe outra escotilha para ventilação da câmara inferior, dois reclamos para colher a escota da vela e também para amarrar a cana do leme, e dois cunhos que recebem o tirador da talha que serve para aliviar ou levantar o leme.

Dos dois convés (conveses, mais corretamente – nota minha) saem escadas para o porão e, sobre este, entre as duas amuradas, costuma usar-se uma prancha para se passar facilmente de um para o outro dos bordos.

A Fragata possui um único mastro, inclinado para a ré, que arma um estai e uma vela grande de carangueja. O mastro é aguentado por dois brandais para bombordo e dois para estibordo, fixados aos costados por colhedores. Entre os brandais de um dos bordos funciona uma talha (talha dobrada), aparelho multiplicador de forças e que se destina a grandes esforços, tais como içar cargas pesadas para o porão da fragata.

As fragatas são, geralmente, de cor preta e, habitualmente, não são ornamentadas. Apenas o capelo costuma ser orlado de branco e a borda pintada de verde-escuro.

A tripulação é constituída por 3 ou 4 homens, sendo um o arrais, um ou dois camaradas e um moço. O arrais acomoda-se no compartimento da popa e os restantes tripulantes no da proa. É também, junto ao compartimento da proa, e coberto pelo convés, que há um espaço que serve de cozinha e onde se arrecada parte da palamenta.

As fragatas possuem um pequeno barco de apoio, denominado lancha-fragateira.”

 

Embora no texto se referencie que as fragatas têm uma decoração mais austera, isso deve referir-se a algumas, porque outras têm, pelo menos atualmente, uma decoração bastante garrida, como é tradicional nos barcos do Tejo, principalmente a pintura do tabique da popa que separa a zona do porão da zona do mestre, como se pode ver a seguir.

 

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Fragata “Alcatejo”

Fotografia de Alberto Peres in “Barcos do Tejo”

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Fragata “Liberdade”

Fotografia de Alberto Peres in “Barcos do Tejo”

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Fragata “O Boa Viagem”

Fotografia de Alberto Peres in “Barcos do Tejo”

 

 

Em 2004 adquiri, na “Artenaval” os planos para a construção da Fragata “Tejo” na escala de 1:50 e construí o modelo. Os planos estão bastante bem elaborados e pormenorizados. A “Artenaval” (que era em Matosinhos? ou no Porto?) tinha como objectivo a construção de modelos de barcos tipicamente portugueses para o mercado interno e para exportação.

Passado pouco tempo da minha compra, recebi a notícia de que tinha fechado ou por falta de mercado ou por pura falência. Uma pena, pois acho que em Portugal ninguém se dedica a este nicho do mercado de modelismo naval. Possivelmente porque não é mesmo viável pois o mercado português não é muito vasto e o internacional tem outros pontos de interesse.

 

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 Vista geral da Fragata "Tejo"

 

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 Vista geral por bombordo do porão, do convés da proa e do convés da popa

 

 

 

 

 

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 Vista de bombordo de pormenor do convés da proa onde se podem notar o guincho, a fateixa, o capelo decorado, a fixação dos brandais ao costado por colhedores bem como diferentes cabos de laborar

 

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 A escada de acesso ao convés da proa e pormenor do forro interior do costado

 

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 O poço do convés com o vertedouro, varas de acostagem e de manejo do barco, prancha de travessia costado a costado e um croque.

 

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 Pormenor do convés de popa com escotilha, o estai da vela de carangueja amarrado num vai e vem de corrediça.

 

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 Pormenor do convés de popa onde se vê a escada de acesso ao porão, um balde, duas celhas e mais um vertedouro

 

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 Pormenor da popa onde se vê a porta do leme e a cana do leme. O leme pode subir ou descer, ajustando-se á profundidade de navegação

 

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 Pormenor da decoração da proa por bombordo

 

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 O aparelho para fixar a carangueja

 

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 Pormenor da boca de lobo da carangueja e dos vaus bem como do cadernal

 

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 Ferro da fragata e decoração do lado de estibordo

 

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 Pormenor do convés de proa, com o guincho, um barril para a água e a escotilha

 

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 Pormenor do convés de popa onde se podem ver os dois cunhos que prendem os cabos que servem para subir ou descer o leme conforme a profundidade

 

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 A fixação dos brandais ao casco com colhedores e o aparelho da vela grande

 

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 Pormenor dos aros do mastro grande bem como da boneca (azul) para as malaguetas de fixação do aparelho de fixação da vela grande

 

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 O rosário da boca de lobo e a romã no topo do mastro grande

 

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 Corrente do ferro principal

 

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 A Fragata "Tejo" montada no expositor com vista pela bochecha de estibordo

 

 Um abraço

 

Bons Ventos