20.09.23
84 – Modelismo Naval 7.3.16 – Um outro Minibarco – A Barca ou “Barcha”
marearte
(continuação)
10 – O Minimodelo da “Barca de Gil Eanes” segundo planos do “Museu de Marinha” de Lisboa
Caros amigos
Como disse no post anterior, apesar de ter uma opinião diferente da defendida oficialmente sobre o aparelho da “Barca de Gil Eanes”, fui aproveitando os intervalos entre posts para construir um modelo da barca que vem nos planos do Museu de Marinha do qual vou apresentar algumas informações complementares e fotográficas.
A escala em que os planos são fornecidos é de 1:30 para uma barca com o tamanho real de 15,45m fora a fora e 3,40m de boca. O que daria um modelo com 51 cm fora a fora, 13 cm de boca e 36 cm de altura máxima o que era enorme para o espaço que tenho disponível.
Assim, decidi-me novamente pela escala +/- 1:105 o que deu um minimodelo com +/- 15 cm fora a fora, 3,9 cm de boca e 10,5 cm de altura máxima, (tendo reduzido o plano original nº 4, através de fotocópia), modelo esse que posso arrumar numa prateleira onde já estão outros mini modelos.
Apresento primeiramente duas fotografias do modelo vistas pelo través de Estibordo a A, e pelo través de Bombordo a B, com as várias partes da Barca assinaladas, de 1 a 20 que estão descritas na Nomenclatura que se encontra entre as duas.
A – “Barca” por Estibordo
Nomenclatura
1 – Mastro Grande – A
O outro mastro, que dispara para a frente, é o mastro do Gurupés (B11). No entanto, em algumas figurações, a Barca possui um outro mastro pequeno vertical, na área da proa (traquete?), também com vela redonda;
2 – Leme de Espadela – A
(Ou Leme de Esparrela). Leme, usado em embarcações antigas, que era montado na alheta de estibordo, por vezes na alheta de bombordo e também por vezes nos dois bordos, antes do aparecimento do leme axial montado no cadaste. Um exemplo são os antigos barcos viquingues e, mais modernamente, o segundo leme dos botes baleiros (amovível), usado para a aproximação final aos cetáceos, que constituía de um remo comprido, encaixado numa engrenagem e era montado, desta vez, só a bombordo;
3 – Estai – A
Cabo que aguenta para a vante o mastro grande. Nos navios redondos existem vários estais, que tomam nomes próprios conforme o ponto de onde saem, o que não acontece neste caso;
4 – Ovens ou Brandais (2 por bordo) – B
Cada um dos cabos que aguentam o mastro para os dois bordos da embarcação;
5 – Escada – A
Escada para aceder á zona da verga para qualquer manobra e para ir para e vir do Cesto da Gávea (A20);
6 – Verga Grande – B
É uma barra de madeira, bastante pesada, que cruza no sentido dos dois bordos cujo uso é óbvio, pois servia para prender a vela redonda – que na realidade poderá ser quadrada, retangular ou trapezoidal, tomando o nome de redonda pelo seu aspeto de balão depois de enfunada;
7 – Ostaga – B
Ou “Ostágua”, que é um cabo grosso com o qual se arria e põe-se acima horizontalmente ao longo do mastro a verga que suspende a vela;
8 – Braços (1 por bordo) – B
Dois cabos de laborar que servem para orientar horizontalmente a vela, no sentido de obter o melhor rendimento do vento (mareação);
9 – Bolinas (1 por bordo) – A
Cada um dos cabos que puxam para a vante as testas (lados laterias) das velas redondas, do lado donde sopra o vento para que este seja bem aproveitado e não incida por ante a vante (pela frente) da vela;
10 – Escotas (2 por bordo) – A/B
Cabos de laborar, fixos nos punhos das velas (cantos inferiores das mesmas) e que servem para as caçar (tesar) e aguentar a sotavento;
11 – Mastro de Gurupés – B
Mastro que sai para fora da proa, com uma certa inclinação em relação à vertical que, no caso da Barca era amovível, ficando ligado à estrutura da embarcação com um cabo que o “atava” em conjunto com o capelo (A14);
12 – Toldo – A
Proteção tipo “tenda” amovível, que era montada entre o mastro e a estrinca (B16), para proteger do sol e da chuva o que fosse necessário proteger, incluindo alguns tripulantes. Se houvesse um porão, a escotilha de acesso ao mesmo, poderia estar situada por baixo desta proteção;
13 – Galão – B
Não consegui encontrar a definição deste apêndice que sobressai na proa da embarcação. Pelo aspeto e localização tratar-se-ia de um reforço para defesa da zona do capelo (A14) contra abalroamentos. Talvez um “esporão” insipiente. Quem sabe?
14 – Capelo – A
Uma peça de forma retilínea (por vezes trabalhada), que termina a roda de proa;
15 – Âncora – A
Sem necessidade de anotação. Esta embarcação, tal como s outras, embora apresente uma única âncora a estibordo, deveria ter uma outra a bombordo, bem como algumas de reserva;
16 – Estrinca – B
Engenho de força, de eixo horizontal destinado às manobras com a verga (subir e descer) operação esta que lidava com o grande peso da verga, complementado com o peso da vela quando molhada – o que normalmente era uma constante;
17 – Vela Redonda – B
Vela de feitio quadrangular que enverga em vergas que cruzam bordo a bordo e que são normalmente feitas de panos de lona ou de brim que eram conhecidos por “Panos de Treu” fabricados particularmente na zona norte do país com linho e com uma determinado número de fios e uma medida de largura estabelecida uniformemente (D. Fernando -1377);
18 – Rizes – A
São pedaços de corda que se enfiam e prendem nas velas e que servem para, em situação de aumento da força do vento, diminuir a superfície da vela exposta ao vento, sem ser necessária qualquer outra ação;
19 – Barril da água – B
Recipiente feito de aduelas em madeira ligadas com cintas de ferro, compondo um contentor mais ou menos estanque, que servia para transportar água potável, que nunca era suficiente. Havia mais do que um barril de água nos navios, dependendo da sua capacidade para transportar mais. De qualquer forma, em navegação costeira, havia sempre a possibilidade de ir a terra e procurar água e outros mantimentos. É o que se entende por “fazer aguada”;
20 – Cesto da Gávea – A
Para haver um “Cesto da Gávea”, no caso da Barca, depreendia-se que também havia uma outra vela montada por cima da vela grande. Tal não é o caso pois a Barca tem um único mastro (mastro real) sem nenhum “mastaréu da Gávea”. Na “Terminologia Naval Anterior a 1460” da Dra. Carbonell Pico, esse termo não existe.
A sua função era a de servir de suporte a um tripulante que, em algumas fases da navegação em águas pouco profundas, tinha como função “observar” o fundo do mar a fim de avisar sobre a existência de baixios ou escolhos. Não custa nada chamar-lhe “Cesto da Gávea”. Para mim era, mais propriamente, um “Cesto de Observação”.
B – “Barca” por Bombordo
C – Plano da Mastreação e Vista lateral da Barca
D - Planos Geométricos donde se extraiem as dimensões e o "feitio" da Barca
1 – Vista de conjunto da Barca pelo Través de Bombordo.
2 – Três dos planos do modelo da Barca publicados pelo Museu de Marinha
3 – A Barca vista pela Popa
4 – Pormenores interiores do convés da Popa e da Meia-Nau e o leme de espadela montado a Estibordo
5 – Plano superior visto por Estibordo
6 – A Proa da Barca
7 – A proa da Barca vista pela Amura de Bombordo
8 – A proa da Barca vista pela Amura de Estibordo
9 – O cesto da Gávea? (cesto de observação) visto pela vante da Barca
10 – Proa e Gurupés amovível (se assim se pode chamar)
11 – Vista pela Alheta de Bombordo
12 - Vista pela Amura de Bombordo
13-Vista pela Amura de Estibordo onde se nota a Âncora
14 – Vista completa da Barca tirada da Alheta/Través de Estibordo
15-Vista superior pelo Través de Estibordo
Bibliografia consultada para todo o conjunto dos 13 Posts desta Série
1 – “Crónica do Descobrimento e Conquista de Guiné”
AZURARA, Gomes Eannes
c.1450
2 – “Crónica da Tomada de Ceuta”
AZURARA, Gomes Eannes
c.1450
3 – “Da Asia” (Década primeira – Livro I)
BARROS, João de e COUTO, Diogo de
1552
4 – “A Ciência Náutica dos Portugueses na Época dos Descobrimentos”
COSTA, Fontoura da
Lisboa, 1958
5 – “A Náutica dos Descobrimentos”
COUTINHO, Almirante Gago
Lisboa, 1952
6 – “As Tercenas Régias de Lisboa: D. Dinis a D. Fernando”
SILVA, Manuel Fialho e FONSECA, Nuno (ilustrações)
In: “XV Simpósio de História Marítima de 2017 – Academia de Marinha”
Lisboa, 2019
7 – “As Navegações Atlânticas no Século XV”
COSTA, Manuel Fernando
Lisboa, 1979 – Instituto de Cultura Portuguesa
8 – “As Rotas Marítimas Portuguesas no Atlântico de Meados do Século XV ao Penúltimo Quartel do Século XVI”
MOTA, Avelino Teixeira da
Lisboa, ?
9 – “As Tercenas Medievais e a Terçanabal do Infante D. Henrique”
PEDROSA, Fernando Gomes
In: “Memórias 2013 – Academia de Marinha”
Lisboa, 2015
10 – “Revisitando a Cartografia Náutica Portuguesa Antiga do Atlântico: uma análise quantitativa”
GASPAR, Joaquim Alves
In: “Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica”
Ouro Preto, 2009
11 – “Henrique o Infante”
OLIVEIRA, João Paulo
Lisboa, 2017
12 – “Os Descobrimentos Portugueses – O Algarve e os Descobrimentos”
IRIA, Alberto
Volume II, Tomos I e II – Instituto de Alta Cultura
Lisboa, 1989
13 – “Estudos de Arqueologia Naval”
BARATA, João da Gama Pimentel~
Volumes I e II
Lisboa, 1989
14 – “Grandes Veleiros”
Diversos
Volume I
Barcelona, 1999
15 – “A Arqueologia Naval Portuguesa (Séculos XIII – XVI): Uma aproximação ao seu estudo Ibérico”
MARTINS, Adolfo A. Silveira
Lisboa, 2001
16 – “Navios, Marinheiros e Arte de Navegar, 1139-1499”
PEDROSA, Fernando Gomes; PEREIRA, José Malhão; GUERREIRO, Inácio
Academia de Marinha
Lisboa, 1997
17 –“Construção Naval em Madeira – Ate, Técnica e Património”
POLÓNIA Amélia; MIRANDA; Marta
Atas do Congresso Internacional de 23 a 25 de Maio
Vila do Conde, 2016
18 – “Esmeraldo de Situ Orbis”
PEREIRA, Duarte Pacheco (1460-1533)
Academia Portuguesa de História
Lisboa, 1988
19 – “O Navio”
LANDSTRÖM, Björn
Lisboa, 1961
20 – “Medir Estrelas”
REIS, António Estácio dos
Lisboa, 1996
21 – “Barcos do Tejo”
CARRASCO, Estevão e PERES, Alberto
Lisboa, 1997
22 – “Os Navios que Descobriram o Mundo”
ANDRADE, Amadeu de Carvalho
Lisboa, 1975
23 – “A Arquitectura Naval no Tempo dos Descobrimentos”
FONSECA, Quirino
Capítulo IV do Volume II da “História da Expansão Portuguesa no Mundo”
Lisboa, 1939
24 – “Das Barcas aos Galeões”
MACHADO, Raúl Sousa
In: “Oceanos” – Navios e Navegações – nº 38, Abril/Junho
Lisboa, 1999
25 – “Um Relatório sobre a Construção de Caravelas Portuguesas em Bruxelas (1438-1439) ”
PAVIOT, Jacques e RIETH, Eric
In “Oceanos” – O Repto da Europa – nº 16, Dezembro
Lisboa, 1993
26 – “Os Navios dos Descobrimento”
BARRETO, Luís Filipe
Lisboa, 1991
27 – “A Marinharia dos Descobrimentos”
COSTA, Fontoura da Costa
Lisboa, 1939
28 – “Shipbuilding, Knowledge, and Heritage”
POLÓNIA, Amélia; DOMINGUES, Francisco Contente
Porto, 2018
29 – “A Barca das Armações”
GARROCHINHO, António
Blog “Casepaga”
Lagos? 2015
30 – “A Astronomia Náutica na Época dos Descobrimentos Marítimos”
SOUZA, T.O. Marcondes de
- Paulo, (Ensaio Crítico)
31 – “Culturas e Dinâmicas nos portos de Itália e Portugal – Séculos XV-XVI”
ALEXANDRINI, Nunziatella; RUSSO, Mariagrazia; SABATINI, Gaetano
Lisboa, 1919
32 – “Notas sobre a Tecnologia de Construção Naval nos Estaleiros Navais Portugueses do Século XVI”
CARVALHO, Carla; FONSECA, Nuno; CASTRO, Filipe Vieira de
Lisboa
33 – “Pesca do Atum – Armações”
GARROCHINHO, António
Blogue “casepaga”
Lagos, 2015
34 – “Experiência e Conhecimento na Construção Nava Portuguesa do Século XVI: Os Tratados de Fernando Oliveira”
DOMINGUES, Francisco Contente
Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga – Separata 172
Lisboa, 1985
35 – “Dicionário da Linguagem de Marinha Antiga e Actual”
LEITÃO, Humberto; LOPES, Vicente
Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga
Lisboa, 1990
36 – “A Terminologia Naval Portuguesa – Anterior a 1460”
PICO, Maria Alexandra Tavares Carbonell
Sociedade de Língua Portuguesa
Lisboa, 1963
37 – “O Caiaque do Algarve e a Caravela Portuguesa!
FILGUEIRAS, Octávio Lixa; BARROCA, Alfredo
Agrupamento de Estudos de Cartografia Antiga
Coimbra, 1979
38 – “Cadernos Históricos I”
Vários
Comissão Municipal dos Descobrimentos – Câmara Municipal
Lagos
(Conclusão)
Um Abraço e …
Bons Ventos