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Mar & Arte

Artesanato Urbano de Coisas Ligadas ao Mar (e outras)

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Artesanato Urbano de Coisas Ligadas ao Mar (e outras)

11.09.23

81 – Modelismo Naval 7.3.13 – Um outro Minibarco – A Barca ou “Barcha”


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(continuação)

Caros amigos

 

            8.5 – A Tecnologia Naval (1415 – 1434)

Em 1418, quando da ida do Infante D. Henrique para Lagos, no Algarve, o “Estado da Arte” da Marinharia (1) existente no reino de Portugal, já permitia efectuar grandes viagens Oceânicas quer ao Norte da Europa, quer no Mediterrânio e também ao Norte de África. No entanto, essas viagens dependiam de um tipo de navegação que, na sua quase totalidade e consoante as rotas já conhecidas, era feita com base em pontos de referência na costa (pontos conspícuos), levando assim a que as embarcações procurassem navegar principalmente junto à costa ou com rumos previamente já conhecidos.

(1) – Segundo o “Dicionário da Linguagem de Marinha Antiga e actual”, já atrás indicado, este termo significa, entre outros, o conjunto de “conhecimentos náuticos usados pelos nossos navegadores desde o Infante D. Henrique até finais do século XVII em que, com outros (conhecimentos) mais desenvolvidos, se entrou no período da Arte de Navegar”, pág. 347.

A navegação astronómica (medindo a altura dos astros) só aparece, por razões que se prendem com a necessidade de cruzar os oceanos e fazer longas viagens fora de vista da terra, o que levantava vários problemas de localização e orientação em pleno mar alto.

"Desde o início dos Descobrimentos, a navegação foi adquirindo uma componente científica cada vez mais significativa e os processos de cálculo para determinar a posição dos navios tornaram-se cada vez mais complexos. Para serem usados pelos navegantes surgiram instrumentos destinados a realizar a medição ou a auxiliar nos processos de cálculo, uns já existentes e adaptados para uso naval, outros especificamente inventados para tal."

 

                        8.5.1 – Instrumentos de navegação

Entre os diferentes instrumentos surgidos a partir do 3º/4º quarteis do século XV, que foram concebidos ou adaptados às novas funções de uso a bordo, destacam-se os seguintes  (sem ordem cronológica nem na totalidade):

A – Instrumento de Sombra (ou Gnómon)

 Esse conhecimento levou ao surgimento de um dos instrumentos mais antigos e simples da Astronomia, o gnómon vertical, que nada mais é que uma simples vareta fincada verticalmente num solo plano num local iluminado pela luz solar, que permite observar a sua sombra. O gnómon e a medição do tempo. Com Pedro Nunes, evolui para um triângulo rectângulo fixado verticalmente sobre uma base nivelável onde se encontrava gravado um semicírculo com escala em graus sobre o qual se projecta a sombra do triângulo.

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Instrumento de Sombra

Foi concebido por Pedro Nunes para determinar a altura do Sol com vista à determinação da latitude. Convenientemente orientado indica a altura, pela sombra da hipotenusa do triângulo sobre a escala semicircular graduada que lhe serve de base

Instrumento náutico utilizado pelo menos desde o início do século XV para determinação da latitude

 

B – Quadrante com nónio de Pedro Nunes

A posição da linha de prumo indicava na graduação a altura do astro. Para facilitar a leitura mais rigorosa do limbo graduado do quadrante, de forma a atingir fracções mínimas da menor divisão da escala, arranjou Pedro Nunes um dispositivo com o nome de nónio.

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Quadrante com a aplicação da “Teoria do Nónio” de Pedro Nunes.

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Quadrante com Nónio. Existe uma réplica do original (sofisticado) construído por James Kynuyn (c. 1595) construído em metal (bronze) que se encontra no Museu Galileu, em Florença e que possivelmente nunca serviu a bordo.

 

C – Balestilha

balestilha é um instrumento, formado por "virote" e "soalha (s) ", utilizado para medir a altura em graus que une o horizonte ao astro e dessa forma determinar os azimutes, antes e depois de sua passagem meridiana.

Foi um instrumento náutico bastante utilizado pelos Portugueses na Época dos Descobrimentos, e a sua primeira descrição encontra-se no Livro de Marinharia de João de Lisboa em 1514. No entanto, há descrições anteriores, atribuídas a Jacob Ben Machir Ibn Tibbon e a Levi Ben Gerson.

 

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Instrumento náutico, usado durante os séculos XVI a XVIII para determinar a altura dos astros para calcular a latitude. De notar que existem 3 “Soalhas” que eram usadas individualmente consoante a altura do astro.

 

D – Astrolábio Planisférico

O astrolábio é um antigo instrumento para medir a altura dos astros acima do horizonte.

  

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5-Astrolábio 1.gifAstrolábio planisférico de Nicol Patenal 1616 (frente e verso)
(Museu da Marinha)

Aqui referimo-nos ao astrolábio planisférico. Os gregos já o conheciam mas foi através dos árabes, que o introduziram na Península Ibérica, que chegou à Europa.

O instrumento era composto por um disco graduado, a madre, onde se achavam colocadas várias lâminas circulares. Essas lâminas eram também graduadas à superfície das suas margens, permitindo através da alidade determinar a altura de qualquer astro. A alidade girava em torno do centro comum da madre e de todas as lâminas. Cada uma das lâminas ou discos servia para uma determinada latitude.

O astrolábio náutico foi a simplificação do planisférico e tinha apenas a possibilidade de medir a altura dos astros. Inicialmente tinham a configuração da face posterior dos planisféricos. No entanto e com a experiência dos pilotos, ganhou nova forma. Deixou de ser fabricado em chapa de metal ou madeira e passou a fundir-se em liga de cobre de modo a que o seu peso, cerca de dois quilos, o sujeitasse menos ao balanço do navio. O disco inicial foi parcialmente aberto para diminuir a resistência ao vento. A forma definitiva do astrolábio náutico fixa-se assim numa roda, de 15 a 20 cm., com dois diâmetros ortogonais no centro da qual gira a medeclina. Esta alidade dispõe de duas pínulas com orifícios através dos quais se visava o astro. Num dos extremos da medeclina é interceptada uma escala de 0 a 90⁰ gravada nos quadrantes superiores da roda.

 

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Astrolábio Dundee 1555
 (Dundee, Art Galleries and Museums)

O Almirante Gago Coutinho é de opinião que o astrolábio apenas servia para medir a altura do Sol e, numa travessia Atlântica a bordo da barca "Foz do Douro" demonstrou experimentalmente a impossibilidade de, em boas condições, se visarem estrelas a bordo com um astrolábio.

Muitos exemplares espalhados pelo mundo foram fabricados em Portugal e exibem o nome ou as marcas do seu fabricante, como Agostinho de Gois Raposo, Francisco Gois e João Dias. Poucos astrolábios náuticos chegaram até aos nossos dias mas com o desenvolvimento da arqueologia subaquática foi possível recuperar mais exemplares. O número ascende agora a cerca de 80 e são mundialmente registados no Museu Marítimo de Greenwich. Além de um número de registo passaram também a serem conhecidos por um nome, normalmente relacionado com o navio ou o local onde foram encontrados.

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E – Agulha de marear

bússola, mais conhecida pelos marinheiros da altura como agulha de marear, é sem dúvida o instrumento de navegação mais importante a bordo. Ainda hoje. Baseia-se no princípio de que um ferro natural ou artificialmente magnetizado tende a orientar-se segundo a direcção do campo magnético da Terra. Os chineses conheceram-na muito antes dos europeus. Foram aqueles os primeiros a fazerem uso da propriedade da magnetite para procurarem os pontos cardeais. A bússola chinesa era composta por um prato quadrangular representando a Terra onde, uma colher de magnetite poisada no centro. indicava o Sul.

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Bussola Chinesa

Parece que foi através dos árabes que esse princípio entra na Europa, onde se tem notícia do seu uso no séc. XII. Inicialmente era composta por uma agulha de ferro magnetizada que se colocava sobre uma palhinha flutuando numa vasilha cheia de água e que apontava o Norte. Levava-se a bordo pedras de magnetite para se cevar as agulhas à medida que estas iam perdendo o seu magnetismo.

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Pedra de “cevar”

Os rumos ou as direcções dos ventos têm origem na antiguidade. Na Grécia começaram com dois, quatro, oito e doze rumos. No início do séc. XIV surgem já 16 e na época do Infante D.Henrique já se usavam rosas-dos-ventos com 32 rumos. Aos espaços entre cada um dos 32 rumos chamavam-se quartas  (11º15’) que ainda podiam ser divididas ao meio, as meias-quartas  (5º37’) e estas em quartos  (2º48’).

 

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Rosa dos Ventos (1569)

declinação de uma agulha é a diferença que uma bússola marca entre o norte geográfico e o norte magnético. Não se sabe quem foi o primeiro a notar essa diferença mas desde o séc. XV que aparecem referências a esse fenómeno.

Foi D. João de Castro o primeiro a descobrir o desvio de uma agulha, ou seja o efeito que massas de ferro próximas têm sobre uma bússola. Foi uma das razões para que os morteiros, as caixas que protegem as bússolas, fossem primeiramente em madeira.

 

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Bússola francesa (1690)

 

F – Ampulheta

Também conhecido por relógio de areia a sua invenção é atribuída a um monge de Chartres, de nome Luitprand que viveu no séc. VIII. No entanto as primeiras referências deste tipo de objecto aparecem apenas no séc. XIV. Pela descrição de então admite-se que a ampulheta já era usada a bordo. É constituída por duas âmbulas de vidro unidas pelo gargalo  de modo a deixar passar a areia de uma para outra num determinado intervalo de tempo através de um orifício.

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Ampulheta

A areia usada nas ampulhetas podia ser branca ou vermelha, desde que fosse fina, seca e homogénea. As provenientes de Veneza tinham grande reputação. A vida a bordo era regulada por este instrumento. Existiam ampulhetas para tempos de uma, duas ou mais horas mas as mais usadas eram as de meia hora também conhecidas por relógio. Ao virar a ampulheta, o marinheiro tocava o sino; uma badalada às meias horas e pares de badaladas correspondentes à hora de quarto. Um par à primeira, dois à segunda, etc. Falta dizer que cada quarto era, e ainda hoje é assim, de quatro horas. Mais tarde, com o uso das velas triangulares, as bolinas eram “ampulhetadas” para manterem a uniformidade das distancias percorridas

G – Prumo

Entre os primeiros instrumentos de navegação conta-se com certeza aquele que permitiu medir a altura da água por baixo de uma embarcação. Primeiramente talvez o pau ou a vara usada para deslocar o barco. E depois disso quem sabe se uma pedra atada a uma linha. Textos da antiguidade referem sondagens e mesmo navegação com este método o que pressupõe a utilização regular deste instrumento já naquelas épocas.

Usado para profundidades até cerca de 20 braças, a sonda ou prumo de mão é composto por um cone alongado de chumbo, redondo, quadrado ou oitavado, de 3 a 5 Kg de peso e com uma alça no vértice superior onde se fixa a linha de prumo ou sondareza. Na base uma cavidade é cheia com sebo para trazer amostras do fundo de modo a conhecer-se a sua natureza (areia, rocha, lodo, etc.).

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Prumo de mão

Até praticamente meados do século passado o prumo de mão era de primordial importância para a navegação.

H – Quadrante  

Usado pelos navegadores portugueses, pelo menos desde o século XV, o quadrante era um instrumento de madeira ou latão empregado para medir a alturas dos astros, e através de cálculos, ajudar na localização das embarcações em alto mar. A sua origem é mais antiga que a do astrolábio.

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Quadrante

 

Fontes desta parte:

- Museu de Marinha, Lisboa

- Medir as Estrelas – António Estácio dos Reis

- Associação Nacional de Cruzeiros

 

De toda esta panóplia de instrumentos de localização e orientação (quase todos eles usados na época dos Descobrimentos), Gil Eanes na sua Barca só teve acesso a muito poucos para ultrapassar o Cabo Bojador pois a maioria destes instrumentos só entraram em uso após esta passagem.

Gomes Eanes de Azurara, na sua “Crónica de Guiné”, dá-nos algumas pistas sobre esses instrumentos ao pôr na boca do Infante D. Henrique as seguintes palavras, quando tentava convencer Gil Eanes a dar tudo por tudo na nova viagem de tentativa de passagem do Cabo Bojador em 1434 (nova, pois Gil Eanes já tinha tentado em 1433, uma viagem falhada que não passou das Ilhas Canárias), “… nom sabem mais ter agulha nem carta de marear…, referindo-se a outros navegadores que anteriormente tinham falhado 14 ou 15 (?) tentativas de passagem do Bojador durante 12 anos, pois estavam habituados à navegação entre Flandres e outros portos que eram rotas já conhecidas.

Como conclusões teremos:

14 – Fazendo fé do que nos diz Azurara, podemos depreender que a agulha de marear fazia parte seguramente da palamenta da embarcação;

15 – A par da agulha de marear deveriam seguir a bordo uma ou mais ampulhetas que nestes tempos serviam pelo menos, para marcar a duração dos quartos de vigia;

16 – Um outro aparelho, talvez o mais antigo na história da navegação (Heródoto 484-420 BCE), seria o “prumo de mão, imprescindível por mais rudimentar que fosse, devido ao tipo de navegação praticado junto á costa que exigia frequentes sondagens;

17 – O “quadrante”, embora não haja nenhuma certeza da existência deste instrumento a bordo da embarcação de Gil Eanes. Conhecido desde a antiguidade foi o instrumento de “alturas” mais cedo adaptado à náutica. A primeira referência existente em Portugal, é de Diogo Gomes que declara tê-lo utilizado numa viagem efectuada por volta de 1467. No entanto há quem defenda que já era utilizado no século XIV.

 

8.5.2 – Cartografia (1415 – 1434)

 

“Quando a exploração da costa ocidental de África começou, durante a primeira metade do século XV, o método de determinar a posição do navio no mar era baseado, tal como no Mediterrâneo, em distâncias estimadas pelos pilotos e direcções magnéticas fornecidas pela agulha de marear.

Depois de 1434, quando o Cabo Bojador foi dobrado pela primeira vez, rapidamente se verificou que a melhor forma de fazer a viagem de regresso seria levar primeiro os navios para o largo, a fim de contornar ventos e correntes contrários, e depois navegar para norte, em direcção ao arquipélago dos Açores, e daí para Lisboa, tirando partido da circulação geral dos ventos.

  Contudo, os métodos tradicionais de navegação não eram adequados a longos trajectos oceânicos, uma vez que a exactidão das sucessivas posições estimadas se degradava rapidamente com o tempo, a ponto de os navios se poderem perder no mar após escassos dias de viagem em condições mais difíceis. A introdução da navegação astronómica, em meados do século XV, (pouco depois da passagem do Cabo Bojador e como consequência disso) revelou-se uma solução adequada e durável para o problema.

Na primeira fase, as alturas da Estrela Polar eram usadas somente para estimar o deslocamento norte-sul relativamente a uma posição de referência. Mais tarde, durante a segunda metade do século, e com a introdução de tabelas de efemérides e a simplificação do quadrante e astrolábio, tornou-se possível determinar a latitude no mar com uma exactidão considerável.

Antes da introdução dos métodos astronómicos, as cartas náuticas usadas pelos pilotos no Atlântico eram idênticas às cartas-portulano do Mediterrâneo. A posição do navio era determinada, na carta, como a intersecção da linha que representava o rumo magnético seguido, com origem na última posição conhecida, com um arco de circunferência cujo raio era a distância estimada pelo piloto. À posição assim obtida era dado o nome de ponto de estimativa, ou ponto de fantasia. Com a introdução da navegação astronómica, este método foi adaptado de modo a poder integrar a informação de latitude. A posição resultante, na qual a latitude observada prevalecia sempre sobre os outros dois elementos de informação (o rumo e a distância), era designada por ponto de esquadria. Para os casos em que não fosse possível conciliar os três elementos, foi criado um conjunto de regras, as emendas do ponto de fantasia, apresentadas pelo cosmógrafo-mor Manuel Pimentel, na sua Arte de Navegar de 1712 (Cortesão et. al., 1969, p. 145-49).”

A Figura 1 ilustra as regras descritas por Manuel Pimentel.

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Figura 1 – Emendas do ponto de fantasia segundo Manuel Pimentel (1712). Caso 1: rumos entre NNW e

NNE, e entre SSE e SSW; Caso 2: rumos entre ENE e ESE, e entre WSW e WNW; Caso 4: todos os outros rumos

 

In: Revisitando a Cartografia Náutica Portuguesa Antiga do Atlântico:

Uma análise quantitativa

Joaquim Alves Gaspar

Anais do III Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica 2

 

 

A navegação era, no tempo de Gil Eanes, feita basicamente com Carta e Bússola  (ao que se chamava Rumo e Estima) e, acessoriamente, se e quando necessário, com o recurso ao Prumo de Mão, principalmente em manobras de fundear ou muito próximo da costa e que fornecia dados da profundidade do mar.

Durante a primeira metade do século XV, quando os Portugueses iniciaram as viagens de descoberta e exploração da costa do Noroeste de África, estava em pleno uso o método de Rumo e Estima para determinar o posicionamento de uma embarcação numa Carta Portulano cruzando a distância estimada do percurso efectuado com o rumo, com base na agulha de marear. Era o chamado “Ponto de Fantasia”, que já foi demonstrado ser normalmente errado.

No discurso de “motivação” do Infante D. Henrique a Gil Eanes antes da partida para a passagem do Cabo Bojador, atrás citado por Azurara, na frase“… nom sabem mais ter agulha nem carta de marear…, aparece a menção de carta de marear.

Ora, o significado moderno de carta de marear é o mesmo de carta náutica (tecnicamente “carta de Latitudes) na qual já existem coordenadas traçadas. Muito possivelmente na época em que Azurra escreve (1453), já se calculavam as latitudes pois o “quadrante”, que poderia servir para esse efeito, segundo as fontes já existia no século XIV.

Só com o advento dos Instrumentos astronómicos (QuadranteAstrolábio, etc.) é que se conseguiu determinar a latitude que passou a ser introduzida no Portulano, em conjunto com o rumo e com a estima da distância “fantasiada” pelo piloto. Conseguia-se assim uma maior aproximação à realidade, com o senão de que se continuava a trabalhar com cartas portulano que tinham sido desenhadas com base em distâncias estimadas e rumos magnéticos que, ao lhe serem aplicadas escalas de latitude, se revelaram necessitadas de adaptação geométrica.

 

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Carta Náutica Portuguesa

Esta Carta é uma “Carta Portulano” que mantem as “loxodrómicas” (loxodrómica é a linha que, à superfície da Terra, faz um ângulo constante com todos os meridianos, que nesta carta estão representadas pela “teia de aranha” formada pelas diferentes linhas que saem dos diferentes Rumos das Rosas dos Ventos e se cruzam entre si), à qual foi aplicada uma escala de latitudes passando a ser, tecnicamente, uma “Carta Náutica”. (Carta de Latitudes?)

Biblioteca Estense, Modena

Mas já existiriam mapas desenhados da costa Noroeste de África ao tempo da passagem do Bojador? Pode ser que sim mas temos de ter em conta que o historiador Charles Verlinden publicou um artigo na “Revista da Universidade de Coimbra” de 1979, um artigo que contradiz essa existência pois cita uma carta da Chancelaria de D. Afonso V, em que se afirma:

“… da terra para além do Bojador, porque até então não houve ninguém na cristandade que conhecesse essa parte (para além do Bojador) nem se aí existiam povoações ou não pois, não estavam diretamente debuxadas nas cartas de marear nem no mapa mundo, desde o dito cabo Bojador para diante… E mandou (o Infante D. Henrique) dela fazer carta de marear.

Transcrição livre retirada do texto a seguir

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Se as conclusões são estas, que o Infante D. Henrique só iniciou a elaboração de uma Carta Portulano que abrangesse a descida da Costa Ocidental de África em 1434 segundo uma carta privilégio mandada passar por D. Pedro, Regente do Reino em nome de seu sobrinho D. Afonso, carta essa posteriormente corrigida em 1446, em menos 400 léguas, segundo Zurara, então Gil Eanes em 1434 passou o Bojador só com informações verbais, sem portulano algum. E de facto, só a partir da passagem do Bojador é que começou a haver o cuidado de cartografar o que era descoberto.

 Gil Eanes, na sua Barca, quando passou o Cabo Bojador, deveria de levar com ele, quanto muito um Esboço da Costa e uma Mão Cheia de Informações Orais prestadas pelos navegadores anteriores – e talvez possivelmente transcritas para um Portulano ou Carta de Marear com o desenho aproximado da Costa de África já explorada até ao Bojador, conjugando as informações das anteriores navegações, que seria o que estaria disponível.

Possivelmente também levava um Piloto já conhecedor da rota até ao Cabo Bojador.

Como conclusão teremos:

18 – Pode-se pôr a hipótese de que, apesar de não haver um levantamento rigoroso, os navegadores anteriores que demandaram o Cabo Bojador, poderão ter feito alguns esboços, que permitissem elaborar uma “aproximação” de uma carta de marear onde estivessem assinalados alguns pontos que servissem de referência para a localização da costa, mas tal não seria de grande utilidade para Gil Eanes pois o verdadeiro problema estava na ponta final do percurso: a restinga (baixio) que prolongava o bojador mar a dentro.

 

1 – 1448 – Andrea Bianco

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Carta de Andrea Bianco de 1448

É a primeira representação cartográfica dos descobrimentos geográficos portugueses para além do Bojador.

Biblioteca Ambrosina, Milão

E por hoje é tudo

(continua)

Bons ventos e …

Um abraço