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Mar & Arte

Artesanato Urbano de Coisas Ligadas ao Mar (e outras)

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Artesanato Urbano de Coisas Ligadas ao Mar (e outras)

19.09.19

50 - Modelismo Naval 7.26 - "Cutty Sark" - O Modelo 3.7


marearte

 

ib-04.1.jpg

 

(conclusão)

 

Caros amigos

Palamenta e itens fixos

 

13 – Aparelho de Suspender e Arriar

1 – Âncora do Almirantado – Ferro Espatilhado

 

Ferro Espatilhado é o nome que se dá às âncoras quando se encontram a bordo, estivadas no seu lugar próprio e prontas a serem utilizadas quando necessárias. As âncoras de almirantado são âncoras pesadas que servem para segurar navios de grande porte (p.e. os antigos navios de guerra à vela) podendo chegar a pesar algumas toneladas. O “Cutty Sark” fundeava com duas destas âncoras. As âncoras deste tipo caíram em desuso e passaram a ser usadas “âncoras patentes” normalmente com o nome do seu inventor (Smith, Danforth, Martin, etc.). As âncoras de almirantado são compostas de várias partes com nomes próprios que constam da lista referenciada abaixo (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9).

Ficavam estivadas nas amuradas do convés de proa a BB e EB deste, com a Haste (6) junto à Cruz (9) assente num gancho – com diferentes feitios – gancho esse que toma o nome de Raposa (11), e estavam presas ao navio por um cabo Boça do Ferro (12) passado pela Noz (2) da âncora.

O peso da âncora bem como o comprimento da Corrente da Amarra (10) são calculados em função do peso e comprimento do navio. Esta amarra é composta por um determinado número de metros de corrente e por um complemento de cabo grosso e forte. A função da corrente é principalmente a de criar peso junto à âncora quando o navio está fundeado, evitando que a âncora se desunhe do fundo por efeito da ação do mar (garrar).

11.Âncora do Almirantado_Ferro Espatilhado 1.jpg

1 – Cepo;

2 – Noz;

3 – Cavirão;

4 – Anete;

5 – Cotovelo;

6 – Haste;

7 – Unha;

8 – Braço;

9 – Cruz;

10 – Corrente da Amarra;

11 – Raposa;

12 – Boça do Ferro.

 

2 - Amarras e Escovéns

A Amarras (2) ficam presas ao navio numa Braga (Manilha ou gato de escape com que se fixa a amarra ao porão ou ao paiol da amarra. Há uma braga para cada amarra) na zona do convés ou do porão onde se situa o paiol da amarra. No caso do “Cutty Sark” as amarras entram no navio pela vante do castelo de proa pelos Escovéns (1) que se situam junto à roda de proa a BB e EB.

 

13-SAparelho de Suspender e Fundear 1.jpg

1 – Escovém;

2 – Amarra da âncora.

 

4 - Convés da Âncora

Toda a manobra de fundear e suspender é feita a partir do Convés da Proa ou Convés da Âncora.

Na fotografia do modelo em baixo destacam-se, a BB e EB as Âncoras (1) espatilhadas, as Boças (2) pequenos cabos que seguram as âncoras de encontro às amuradas e as Raposas (3) que servem de apoio às mesmas âncoras.

Destacam-se também os dois Turcos que, pela sua função de servirem para trazer o ferro até ao seu lugar com um Aparelho de Laborar (que pode ir da estralheira dobrada ao teque, neste caso uma Talha Singela (5)) se designam por Lambareiros (4).

Além do suspender e fundear, tarefas que são executadas a partir do convés da âncora uma outra manobra para paragem do navio também é executada a partir deste convés. Trata-se da atracagem a cais. Para isso podem ser identificados dois tipos de apetrechos que são as Buzinas Abertas (6) e o Cabrestante (7), sendo este último muitas vezes confundido com o guincho da âncora.

A atracagem era feita com um cabo ligado ao cais (Atracador) que passava por uma das Buzinas Abertas e era puxado e tesado com o Cabrestante até o navio ficar encostado ao cais ou melhor, até as Defensas ficarem encostadas ao cais.

Pode ser observada parte da faina de acostagem do “Cutty Sark” num vídeo de uma chegada do navio a “Gravisend” no Tamisa,

aqui: https://youtu.be/Z8QgQqbPn0k

Por último (e este item ligado diretamente à manobra de Suspender e Fundear) encontra-se o Guincho da Âncora (8) estando visíveis no convés as alavancas do sistema de acionamento manual do tambor de enrolamento que puxa a corrente de elos das âncoras e que se situa na parte debaixo do convés, à entrada do mesmo. Este sistema parece ser igual ao original. No modelo, este tambor não está representado.

âncora.jpg

1 – Âncoras;

2 – Boças;

3 – Raposas;

4 – Lambareiro;

5 – Aparelhos de Laborar (Talhas Singelas);

6 – Buzinas Abertas;

7 – Cabrestante;

8 – Guincho da Âncora.

 

Z122.png

O interior do castelo de proa do “Cutty Sark” onde se pode ver a cobertura do Gurupés e as 2 buzinas das amarras por onde estas entram a BB e a EB bem como uma pequena quantidade das mesmas, pronta a ser largada.

 

Atualmente o guincho das âncoras é diferente, desconhecendo quando se deu esta modificação. Na fotografia seguinte, o sistema de alavancas é o que se encontra representado acima do convés, ante avante do sino, continuando a ser manual (as alavancas, de metal, estão estivadas na balaustrada de proteção) e o tambor de enrolamento, estou em crer que não difere muito do original.

O Ventilador de Capuchana que se vê acima do convés, não existia originalmente e serve para levar ar fresco ao interior do convés da âncora.

 

Z130.png

O aparelho de Suspender e Fundear existente mais modernamente no “Cutty Sark”

 

As correntes de cada uma das âncoras encontravam-se estivadas em caixas de ambos os lados da escotilha de proa, onde se encontravam ligadas.

 

Z132.png

As caixas (paióis) das amarras das âncoras onde se encontravam as correntes estivadas e seguras ao navio por bragas que ficavam situadas dos lados da escotilha de proa. A atual escotilha de gaiuta só foi colocada já quando o navio se encontrava em doca seca.

 

14 – Aparelho Fixo e Meios de Salvamento

1 - Ante a Ré do Traquete

Basicamente, os meios de salvamento quer para situações de “Homem ao Mar” quer de “Naufrágio” eram constituídos por boias circulares salva-vidas (sendo certa a sua existência, no caso do “Cutty Sark”, junto à roda do leme, no tombadilho e na zona de meia nau do navio) e por 2 botes e 2 canoas devidamente apetrechadas com remos, mastros e velas.

A fotografia seguinte mostra um dos Botes salva-vidas (10) estivado no telhado da casa de proa do convés que se situa Ante a Ré do Traquete, zona que não dispõe de turcos dedicados. Este bote era raramente usado, mesmo em situações de bom tempo pela dificuldade em arriá-lo. A forma mais rápida (infelizmente não muito eficaz) de socorrer um tripulante que tivesse caído ao mar era atirar-lhe uma boia salva-vidas, já que a manobra de arriar um bote era bastante demorada.

Esta forma de socorro, embora fosse bastante rápida, era na realidade pouco eficaz pois normalmente os tripulantes caiam ao mar em situações de tempestade em que as ondas comiam o convés e arrastavam tripulantes desprevenidos, muitas das vezes envergando roupa pesada (botas e oleados de tempestade). Além disto, rapidamente se afastavam do navio que só muito depois podia manobrar á volta para regressar ao sítio estimado da perda do tripulante. Se o tripulante conseguia agarrar a boia talvez se conseguisse salvar. Mas nestas condições, eram mais as vezes que não conseguiam dos que as que conseguiam.

Mas também ocasiões houve (bastantes) em que um tripulante arrastado para o mar por uma onda foi reposto no convés pelo refluxo da mesma onda. Parafraseando: “ao tripulante e ao borracho põe Deus a mão por baixo”

Nesta fotografia ainda se podem ver os Colhedores (1) do aparelho fixo – Brandais Fixos (2), Brandais Volantes (3) e os Ovéns (4) – colhedores esses que são compostos por duas Bigotas (6) a de cima ligada ao brandal ou ao ovém pelo Archote (7) e fixos à amurada – mesa das enxárcias – pelo Tirador (8). São visíveis os Enfrechates (4) da enxárcia do Mastro Real do Traquete e a Mesa de Malaguetas (9) do Traquete de BB (e também a de EB).

 

14-Aparelho Fixo e Meios de Salvamento 1_Ante a Ré do Traquete.jpg

1 – Colhedores;

2 – Brandais Fixos;

3 – Brandais Volantes;

4 – Ovéns;

5 – Enfrechates;

6 – Bigotas;

7 – Archote;

8 – Tirador;

9 – Mesa de Malaguetas;

10 – Baleeira.

 

2 - Ante a Ré do Grande

O telhado da casa do convés de Meia-Nau foi aproveitado para estivar o outro Bote salva-vidas (1) e as duas Canoas (2) tendo sido esse telhado prolongado até à perpendicular das amuradas para cada um dos bordos com uma armação onde assentam as duas canoas.

Tanto a BB como a EB existem Turcos (3) dedicados que servem para arriar e içar quer as Canoas, quer o Bote salva-vidas, quando necessário. Este bote também funciona como bote de serviço para transporte entre navios ou navio/terra.

Também se podem ver as Escoteiras (4) do Grande (uma Ante a Ré do mastro e a outra que abraça o mastro em toda a sua circunferência) onde moram as escotas das velas redondas do grande e as adriças das vergas do mesmo mastro.

 

15-Aparelho Fixo e Meios de Salvamento 2_Ante a Ré do Grande.jpg

1 – Baleeira;

2 – Canoas;

3 – Turcos;

4 – Escoteiras do Grande.

 

15 – Moradas dos Cabos de Laborar do “Cutty Sark”

Este documento sobre as “Moradas dos Cabos de Laborar do Cutty Sark” é uma reprodução do site jans-sajt.se já anteriormente referido noutro post.

 

Morada dos cabos do “Cutty Sark”

Como os planos originais da morada dos cabos do “Cutty Sark” são desconhecidos ou foram perdidos e as fotos são muito raras, este plano foi desenhado por Jan Gelbrich em Novembro de 2015, com base na réplica da galera, clipper "Stad Amsterdam".

As fontes que serviram para este trabalho foram:

  • Instruções originais para o "Stad Amsterdam";
  • Observações diretas a bordo do "Stad Amsterdam";
  • Planta do convés do “Cutty Sark”, como reconstruído;
  • O livro de Hakney sobre a construção de um modelo do "Cutty Sark";
  • Plano vélico do “Cutty Sark, e representações contemporâneas.

No plano, só figuram as malaguetas dedicados aos cabos apenas para as velas que são usadas regularmente.

Os cabos das velas raramente usadas são aduchados "em lugar livre", conforme seja necessário.

Parte-se do princípio que as velas auxiliares são desenvergadas completamente quando não estão a ser usadas.

As adriças são únicas e, portanto assimétricas, apenas de um lado! A sua ordem é alternada pois cruzam-se em cada vela superior que lhes esteja mais próxima. As carregadeiras das velas de estai também são assimétricas.

Todos os outros cabos são simétricos por BB e EB.

 

CuttySark_English_JG3.png

O plano referido pode ser consultado, em tamanho legível,

aqui: http://jans-sajt.se/contents/Navigation/Modelling/CuttySark_English_JG3.png

Quando aceder ao site clique na imagem para aumentar. As legendas só estão em Inglês.

 

16 - O Navio visto pelos Tripulantes

 

16-O Navio visto pelos Tripulantes 1.jpg

1 - Por ante a vante do Mastro Grande vendo-se ao fundo do convés lateral de EB (a meia-nau e à vante), as escadas de acesso ao Convés da Âncora bem como os dois lambareiros (EB e BB) que servem para auxiliar a faina de espatilhar as duas âncoras. Em primeiro plano, à esquerda da fotografia o bote salva-vidas com a respetiva vela em como a enxárcia de BB do Mastro Real do Traquete e à direita, os colhedores dos brandais de EB do Mastro do Traquete.

 

18-O Navio visto pelos Tripulantes 18.jpg

2 – Por ante a ré do Mastro Grande tendo ao centro as Escoteiras do Mastro Grande onde estão aduchadas as escotas da Vela Grande, das Gáveas de Baixo e de Cima, do Joanete Grande, do Sobrejoanete Grande e do Sobrinho Grande, bem como as adriças das vergas destas velas. A BB, parte do convés lateral onde se destacam as enxárcias e os brandais do Mastro Real do Grande, bem como mesas de malaguetas do mesmo mastro e a EB, ao longo do convés lateral, o mesmo tipo de aparelho fixo e de laborar, que se prolonga até ao convés de proa, que se vislumbra ao fundo. Também são visíveis as luzes indicadoras de posição do navio, que se encontram aplicadas ao nível do primeiro enfrechate das enxárcias (vermelho para BB e verde para EB).

 

17 – O atual “Cutty Sark” em Greenwich

Vá visitá-lo em Greenwich! Vale a pena esta viagem! Antes que o câmbio £/€ fique descontrolado! Ou que o “Cutty Sark” arda outra vez! Longe vá o agouro.

 

Cutty_Sark_(16719233476).jpg

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Fim da Série sobre o clipperCutty Sark/Ferreira/Maria do Amparo” que foi publicada neste blogue em 24 posts, com os números:

 

Aspetos Técnicos do “Cutty Sark”

25 – “Cutty Sark” – 1 – 04/01/1918.

A História do “Cutty Sark”

26 – “Cutty Sark” – 2.1 – 30/03/2018.

27 – “Cutty Sark” – 2.2 – 30/03/2018.

28 – “Cutty Sark” – 2.3 – 29/07/2018.

29 – “Cutty Sark” – 2.4 – 31/07/2018.

30 – “Cutty Sark” – 2.5 – 15/08/2018.

31 – “Cutty Sark” – 2.6 – 20/08/2018.

32 – “Cutty Sark” – 2.7 – 24/08/2018.

35 – “Cutty Sark” – 2.8 – 23/05/2019.

36 – “Cutty Sark” – 2.9 – 29/05/2019.

37 – “Cutty Sark” – 2.10 – 01/06/2019.

38 – “Cutty Sark” – 2.11 – 04/06/2019.

39 – “Cutty Sark” – 2.12 – 19/06/2019.

40 – “Cutty Sark” – 2.13 – 26/06/2019.

41 – “Cutty Sark” – 2.14 – 29/06/2019.

42 – “Cutty Sark” – 2.15 – 04/07/2019.

43 – “Cutty Sark” – 2.16 – 08/07/2019.

O Modelo do “Cutty Sark”

44 – “Cutty Sark” – 3.1 – 12/07/2019.

45 – “Cutty Sark” – 3.2 – 23/07/2019.

46 – “Cutty Sark” – 3.3 – 26/07/2019.

47 – “Cutty Sark” – 3.4 – 08/08/2019.

48 – “Cutty Sark” – 3.5 – 17/09/2019.

49 – “Cutty Sark” – 3.6 – 18/09/2019.

50 – “Cutty Sark” – 3.7 – 19/09/2019.

 

Um abraço e …

Bons Ventos