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Mar & Arte

Artesanato Urbano de Coisas Ligadas ao Mar (e outras)

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Artesanato Urbano de Coisas Ligadas ao Mar (e outras)

29.05.22

61 - Modelismo Naval 6.2.5 - Baleação - Uma mini-história


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Mapa da Nova Inglaterra desenhado em 1614 pelo capitão John Smith

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Cortesia da Biblioteca de Mapas do Congresso, Divisão de Mapas USA

 

“Como eu gostava muito da Virgínia,

embora não gostasse dos seus procedimentos,

desejei também ver este país

e passar algum tempo tentando explorar o que pudesse encontrar”

Captain John Smith 1608

 

Do poema

"Descrição da Ilha de Itaparica", da autoria de frei Manuel de Santa Maria Itaparica

(c. 1769)

uma estrofe sobre a baleia:

 

 XVII

Monstro do mar, Gigante do profundo,

Uma torre nas ondas soçobrada,

Que parece em todo o âmbito rotundo

Jamais besta tão grande foi criada:

Os mares despedaça furibundo

Co'a barbatana às vezes levantada,

Cujos membros tetérrimos e broncos

Fazem a Tétis dar gemidos roncos.

Tétis (em grego: Τηθύς, transl.: Tēthýs), na mitologia grega, era uma titânide, filha de Urano e de Gaia. Da sua união com o seu irmão Oceano,nasceram as oceânides.

 

(continuação)

Caros amigos

 

Linha de Tempo da Baleação Americana

 

No anterior Post deixámos o capitão Smith, contratado por 4 comerciantes Ingleses, a preparar uma nova viagem ao Novo Mundo, a uma zona a norte da Virgínia ainda inexplorada, que se iria chamar...

 

2 – Nova Inglaterra – “O Capitão Smith vai balear”                                                    1614 - 1620                                          

Em 3 de março de 1614, Smith estava na proa de um dos dois navios que se dirigiam para o Novo Mundo e que desciam o Tamisa em direção ao Atlântico, levando consigo quarenta e cinco companheiros que, como ele, almejavam ter êxito nesta viagem.. Quatro mercadores ingleses - Marmaduke Roydon, George Langam, John Buley e William Skelton – apoiaram (financeiramente) a viagem de Smith para a zona do Maine, Massachussets, a norte da Virgínia, que ficava entre as linhas 41֯ e 45֯ de latitude, e que ele mais tarde batizaria de Nova Inglaterra.

Em 1616, Smith publicou o livro:

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onde descreve toda a zona abrangida pela "Nova Inglaterra" misturando informações de roteiro com outras sobre as possibilidades económicas de exploração que encontrou.

(A descrição que faz da Nova Inglaterra abrange: a pesca, os solos, os habitantes, a fauna, a flora e o clima da região costeira de Cape Cod a Penobscot. Este trabalho é o primeiro a aplicar o termo “New England” para aquela porção da América do Norte de Long Island Sound a Newfoundland. Naquela época, possuía algumas estações de comércio e pesca, e existiam franceses ao norte e holandeses ao sul que faziam comércio de peles com os nativos. Havia uma próspera pescaria ao norte (águas da Terra Nova), onde o bacalhau era pescado por navios de Portugal, Holanda e Espanha. Para Smith, essas eram evidências da riqueza de mercadorias disponíveis e sinais da importância estratégica para a Inglaterra  garantir assentamentos permanentes na região.) 

 

O seu entusiasmo por esse empreendimento foi alimentado pelo sonho de encontrar ouro, o metal precioso e indescritível que havia sido a força motriz por trás de tantas explorações do mundo. A conversa sobre a existência de ouro na Nova Inglaterra era em grande parte devido a uma história que circulava na Inglaterra desde 1611, quando o capitão Edward Harlow capturou quatro índios americanos e os transportou de volta para Londres.

Um dos índios, chamado Epenow, era, disse Smith, “de  grande estatura, ele foi exibido… por dinheiro como uma maravilha”, havendo notícia da existência de ouro em Martha's Vineyard, a ilha de onde ele havia sido tirado à força.

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Índio Americano típico (não é o Epenow!)

Dado que o ouro nunca foi encontrado em Martha's Vineyard, muitos se perguntaram o que Epenow estava a pensar ao dar aos ingleses esta informação. Poderia ter presumido que as brilhantes listas amarelas nas areias de Gay Head, os penhascos no extremo oeste da ilha, eram evidências do metal precioso, sem saber que eram subprodutos das intempéries e da erosão.

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O promontório de "Clay Cliffs" em "Gay Head"

Martha's Vineyard, Massachusetts

Outra hipótese é que Epenow tenha criado a história, para convencer os ingleses de que só ele sabia onde encontrar o ouro, como meio de ganhar uma passagem de volta para casa. Se esta segunda história for verdadeira, foi uma excelente jogada, pois quando outro grupo de aventureiros ingleses contratou Epenow como guia, ele saltou do navio em frente a  Martha's Vineyard e nadou até a praia.

Apesar dos motivos de Epenow, a sua história teve um efeito eletrizante. Quando Roydon - o principal comerciante que financiou o capitão Smith nesta viagem - ouviu a história e a compartilhou com os seus associados, o compromisso de retorno de Smith para a América ficou garantido. Se houvesse ouro em Martha's Vineyard também poderia haver ouro noutras partes da Nova Inglaterra e, se os mercadores tivessem sorte, Smith e seus homens o encontrariam alcançando o sucesso de toda a viagem.

Os objetivos da expedição foram assim ampliados para incluir formas mais convencionais de ganhar dinheiro, com o encargo final de Smith sendo obter lucro caçando “baleias e... [fazendo] tentativas de descobrir uma mina de ouro e cobre”, e se esses esquemas não dessem certo, então “peixe e peles” seriam a sua “alternativa”.

Smith duvidava que encontrariam ouro – ou cobre, por falar nisso – acreditando que acenar tais perspectivas diante dos olhos dos mercadores era simplesmente “um artifício” para fazê-los financiar a viagem.

Mas a perspectiva de capturar baleias, ao contrário do ouro, não era uma invenção de conveniência. Pelas descobertas de viajantes anteriores, Smith sabia que as baleias nadavam nas águas da futura Nova Inglaterra. Um desses viajantes foi Bartholomew Gosnold, que partiu de Falmouth, Inglaterra, na primavera de 1602. Ele e os seus homens desembarcaram na ilha "Cuttyhunk", onde encontraram “muitos ossos e costelas de baleias enormes” ao longo da praia.

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Ilha de "Cuttyhunk" a Oes-Noroeste da ilha de  "Martha's Vineyard" na costa de Massachusetts

 

Smith não apenas sabia que havia baleias em Nova Inglaterra, mas também estava confiante de que elas poderiam trazer grande riqueza para ele e para os seus financiadores, pelo conhecimento que tinha dos proventos das operações de baleação levadas a efeito no Ártico pela Inglaterra e outros países da Europa . Portanto, ter a baleação como um dos principais objetivos da viagem era realmente muito atraente, fornecendo outro caminho potencial para a Inglaterra expandir a sua participação nessa indústria em crescimento. Foi com grandes expectativas, então, que John Smith, juntamente com quarenta e cinco homens e rapazes, em dois navios, navegaram pelo rio Tamisa, através do Canal da Mancha, e embarcaram numa viagem através do Oceano Atlântico.

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2 ª Viagem da Inglaterra para o Novo Mundo - John Smith - 1614

No final de Abril de 1614 chegaram à Ilha Monhegan, na costa do Maine,  onde as suas esperanças de caçar baleias logo foram frustradas. Apesar de ter trazido Samuel Cramton, que havia sido escolhido especificamente por sua habilidade como arpoador, bem como outros tripulantes que também eram “especialistas nessa faculdade (baleeiros)”, Smith escreveu que ele e seus homens “acharam essa pesca de baleias uma atividade difícil."  

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Monumento aos Baleeiros, São Roque do Pico, ilha do Pico, Açores

Foto:Carlos Luís M C da Cruz

"Vimos muitas e passamos muito tempo perseguindo-as, mas não conseguimos matar nenhuma. Elas são uma espécie de Jubartes (A jubarte ou baleia-jubarte (nome científico: Megaptera novaeangliae), também conhecida como baleia-corcunda, baleia-cantora, baleia-corcova, baleia-de-corcova, baleia-de-bossas ou baleia-preta é um mamífero marinho presente na maioria dos oceanos), e não a Baleia que produz "Finness" [barbas] e "Oyle" (óleo) como esperávamos.”

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Uma baleia "Jubarte" na "vertical". O tamanho em relação ao mergulhador que parece "cumprimentá-la"! Oito a nove vezes mais pequeno! Impressiona!

O tipo de baleia que Smith queria seria a franca ou, possivelmente, uma baleia-da-Gronelândia. Essas “Jubartes”, por outro lado, provavelmente eram baleias-comuns (ou jubarte) que produzem muito menos óleo. E as baleias-comuns, em particular, teriam sido um alvo muito difícil de matar. Perdendo em tamanho apenas para a baleia azul, a jubarte, chamada de “galgo do mar”, pode atingir velocidades de vinte nós por até quinze minutos, dando-lhe a capacidade de fintar os homens de Smith em seus pequenos botes.

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Baleias Francas, as que John Smith procurava

Falhando na caça às baleias e não encontrando metais preciosos, Smith e seus homens optaram por outros alvos — peixes e peles; Mas estavam fora de época. “Por nossa chegada tardia e longa demora sobre a Baleia”, comentou Smith, “o auge de ambas as estações [peixes e peles] passou antes que nos apercebessemos disso”. Ainda assim, os homens de Smith conseguiram apanhar quase cinquenta mil libras de peixe e negociar muitas peles, tornando a viagem parcialmente bem-sucedida, embora não lucrativa o suficiente para cobrir todo o seu custo.

Os ganhos materiais medíocres da viagem não preocupavam Smith, nem diminuíram o seu entusiasmo com a Nova Inglaterra. Enquanto os seus homens pescavam, e entre as suas tentativas de trocar “ninharias” com os índios em troca de peles de animais, Smith pesquisou avidamente a costa da Nova Inglaterra num pequeno barco com oito membros da sua tripulação.

Explorar e mapear eram o que Smith mais gostava, e enquanto fazia isso ele sonhava com o papel que essa região poderia ter na expansão do que mais tarde se tornaria o Império Britânico, e com o papel que ele poderia desempenhar nesse desenvolvimento. A parte da costa que mais mexeu com a imaginação de Smith foi Massachusetts, e especificamente a área ao redor de Boston, que ele chamou de “o paraíso de todas essas partes”.

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Viagem de exploração da costa da Nova Inglaterra em 1614 pelo capitão John Smith

De Plymouth ele disse que tinha “um excelente porto, boa terra; e não falta nada além de pessoas trabalhadoras.” Smith navegou de volta para a Inglaterra em 18 de julho de 1614. Se a sua sorte tiivesse sido diferente, no entanto, Smith poderia não ter voltado.

Anos mais tarde, ele escreveu que, se a caça às baleias tivesse dado certo, ele teria ficado na Nova Inglaterra “com dez homens para manter a posse daqueles grandes territórios”. Mas as baleias não forneceram uma razão para Smith permanecer, e no final de agosto ele estava de volta a Londres.

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Londres, Tamisa - pintura

meados do século XVII (antes do grande incêndio)

A experiência de Smith alimentou o seu desejo de retornar. Tão grande era a sua necessidade de grande aventura que escreveu que "preferia viver... [na Nova Inglaterra] do que em qualquer outro lugar", e se a colônia "não se mantivesse sozinha... vamos morrer de fome".

A primeira hipótese de Smith de retornar chegou em março de 1615 mas, não muito tempo depois do seu navio ter saído do porto de Plymouth, Inglaterra, foi apanhado por um vendaval que estilhaçou os mastros e fez com que o navio metesse água a uma velocidade tremenda. Continuar a viagem estava fora de questão. O novo objetivo era a sobrevivência - levar o navio de volta ao porto - o que Smith e seus homens conseguiram fazer depois de montar um novo mastro e remendar, atamancando, o casco.

Apesar desse fracasso, Smith convenceu os seus patrocinadores a subscrevê-lo novamente e, em junho daquele ano de 1615, ele estava no convés de outro navio que procurava as costas da Nova Inglaterra. Mas esta viagem não terminou melhor. Dentro de algumas semanas, o navio de Smith foi capturado por piratas franceses, e Smith começou assim a sua prisão a bordo do “Sauvage”. Em vez de lamentar sua situação, Smith começou a escrever “para evitar que meus pensamentos perplexos meditassem demais sobre minha condição miserável”. Ele escreveu sobre o assunto que era mais caro ao seu coração— Nova Inglaterra — e as perspectivas que ela trazia para a colonização.

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Apresamento do capitão Smith pelo corsário francês "Sauvage"

Depois de três meses, Smith efetuou uma fuga ousada. Enfiou o manuscrito sob a camisa, roubou um dos pequenos barcos do navio e remou até a costa da França. Autoridades francesas questionaram Smith sobre sua estranha odisseia e então o libertaram, e não muito tempo depois, Smith, com seu manuscrito, partiu para Londres, chegando lá em janeiro de 1616.

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Chegada à França de Smith

Smith tentou gerar interesse por outra viagem à Nova Inglaterra mas, não encontrando apoiadores que estivessem dispostos a apostar num homem cujos dois últimos esforços terminaram em desastre, Smith decidiu por uma abordagem diferente. Ele terminou o seu manuscrito, que foi publicado em junho de 1616, intitulado A Description of New England”. Smith esperava que este livro gerasse entusiasmo sobre a colonização, especialmente com investidores que pudessem oferecer-lhe o comando de mais um navio.

A “Description of New England“ estava escrito em partes iguais como diário de viagem e como “publicidade de vendas". Incluía um mapa bonito e detalhado da Nova Inglaterra, estendendo-se do que hoje é Cape Cod até o extremo norte do Maine.

Olhando para o mapa cerca de quatrocentos anos depois, ficamos impressionados com a sua precisão. Embora muitos dos detalhes estejam errados, alguns consideravelmente, é uma versão brilhante, dadas as ferramentas e o tempo à disposição de Smith, e superou em muito os mapas contemporâneos da região.

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Mapa da "Nova Inglaterra" de John Smith, publicado em 1616

No canto superior esquerdo, há uma imagem impressionante de Smith vestido com o melhor traje militar, a sua mão esquerda descansando levemente na sua espada. Com barba e bigode cheios, e uma juba escura de cabelo penteado para trás da testa, Smith olha para fora com o olhar firme e de aço de um homem que está confiante em si mesmo e em seu lugar no mundo.

Logo à direita do centro do mapa, no oceano,  uma baleia estilizada, aparece, a sua cabeça à vista, jorrando água num arco de um buraco no seu nariz. Uma das características mais distintas do mapa são os nomes dos lugares. Num esforço para ligar a Nova Inglaterra mais firmemente à velha Inglaterra na mente do público e, ao mesmo tempo, aumentar as perspectivas de colonização, Smith deu ao príncipe Charles (mais tarde se tornaria o rei Charles I) a honra de renomear muitos dos “lugares mais notáveis” da Nova Inglaterra, mudando “seus nomes bárbaros para tal inglês, e assim a posteridade poderia dizer que o príncipe Charles era seu padrinho”.

Embora “A Description of New England” tenha encontrado um público curioso e recetivo na Inglaterra e em toda a Europa, não facilitou o retorno de Smith ao Novo Mundo, antes pelo contrário. Pode-se argumentar que, ao escrevê-lo, Smith pode ter ajudado a arruinar uma das melhores oportunidades que teve de se aventurar de volta ao outro lado do Atlântico - ou seja, a oportunidade de liderar um grupo de dissidentes religiosos chamados "Peregrinos" ao Novo Mundo.

 

Os Peregrinos estabeleceram-se no norte da Inglaterra no início de 1600, separando-se da Igreja da Inglaterra. Este foi um ato ousado, ilegal, traiçoeiro e herético que os tornou alvo de escárnio e represálias. Em vez de ficar num país onde claramente não eram desejados, os peregrinos emigraram para a Holanda em 1608. Embora os holandeses fossem mais tolerantes, os peregrinos decidiram, depois de uma década a viver na Holanda, que para atingir seu pleno potencial como comunidade, eles precisavam de sair.

Tinham, como o historiador, Samuel Eliot Morison (09/07/1887-15/05/196) - Contra-Almirante, Marinha dos USA - professor de História na Universidade de Harvard) descreveu, “uma visão de uma colónia no exterior onde eles poderiam ter uma vida decente, adorar como eles achavam certo e levar a vida do Novo Testamento”. A Virginia Company, permitiu que eles se estabelecessem perto da foz do rio Hudson. (Zona de Nova Iorque)

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Um casal de "Pilgrims" que foram para a colónia da Nova Inglaterra  em 1620

Os peregrinos reuniram-se com Smith para discutir a sua viagem e, embora ele preferisse liderar um bando de pioneiros experientes e habilidosos para a Nova Inglaterra, Smith estava tão desesperado por uma viagem para a America  de qualquer tipo, que ele aproveitou a oportunidade de se tornar parte dessa expedição, reconhecidamente questionável e arriscada. O fato de Smith não ter outra comissão na época certamente aumentou o seu desejo de participar desta empreitada.

Mas a oferta de Smith de se juntar aos “Pilgrims” como guia e comandante militar foi rejeitada, com essa tarefa sendo entregue a Myles Standish. Smith afirmou mais tarde que o seu próprio trabalho, incluindo “A Description of New England”, desempenhou pelo menos um papel parcial na negação desta posição. “Meus livros e mapas eram muito mais baratos para ensiná-los”, escreveu Smith, “do que eu mesmo.

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Myles Standish - Oficial militar inglês contratado pelos "Pilgrins"  (1584-1656)

Os Peregrinos partiram de Plymouth, Inglaterra, em 6 de setembro de 1620, a bordo do “Mayflower”. A viagem foi particularmente irónica, já que quando os peregrinos chegaram à América, viram muitas baleias. Mas, ao contrário das baleias que Smith encontrou tão frustrantemente na costa do Maine em 1614, as baleias que os peregrinos viram eram baleias que valiam a pena ser capturadas.

 

(continua)

Bons Ventos e ...

Um abraço

 

12.05.22

60 - Modelismo Naval 6.2.4 - Baleação - Uma mini-história


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Mapa da Virgínia de 1608 desenhado pelo capitão John Smith

A partir de 1607, o capitão John Smith começou a explorar e descrever a Baía de Chesapeake e seus afluentes. Esse mapa, publicado em 1612, tornar-se-ia o principal recurso cartográfico da região por quase sete décadas. Cruzes pretas marcam os locais onde a navegação de Smith foi interrompida. Para explicar o terreno da carta, Smith se baseou em descrições e relatos dos nativos Powhatan.

Cortesia da Biblioteca de Mapas do Congresso, Divisão de Mapas USA

(continuação)

Caros amigos

 

Linha de Tempo da Baleação Americana

 

No anterior Post desta série, o 59, tínhamos deixado o capitão John Smith a descer o Tamisa com os seus companheiros em 1614, com destino ao Sul.

O capitão Smith ainda não tinha entrado nesta história e convém ser apresentado.

                                                                      

1 - O capitão John Smith e Pocahontas                                                                            1607 - 1614

Smith tinha 34 anos quando embarcou nesta segunda viagem para a América. Anos esses de uma vida aventureira e assaz complicada.

John Smith foi batizado a 6 de janeiro de 1580 (a data de nascimento é desconhecida) e faleceu em 21 de junho de 1631. Foi um militar inglês, aventureiro, explorador, governador colonial, almirante da Nova Inglaterra e escritor. Um homem dos sete ofícios.

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Capitão John Smith – Estátua em Jamestown

Desempenhou um papel importante no estabelecimento da colonia em Jamestown, Virgínia, o primeiro assentamento inglês permanente na América, no início do século XVII. Foi um líder da Colônia da Virgínia entre setembro de 1608 e agosto de 1609, e liderou uma exploração ao longo dos rios da Virgínia e da Baía de Chesapeake, durante a qual se tornou o primeiro explorador inglês a mapear a área desta baía.

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Mapa Físico dos rios da Virgínia e da Baía de Chesapeake

Nestes trinta e quatro anos de vida, atravessou a Europa, sobreviveu a um naufrágio, lutou pelos holandeses contra os espanhóis e pelos húngaros contra os turcos, venceu três homens em duelo, foi ferido em batalha duas vezes, foi feito escravo por um paxá turco, ajudou a fundar Jamestown, na Virgínia, América e, "the last but not de least" foi amigo, tutor e protetor da princesa indiaPocahontas”.

 

Pocahontas – uma "Estória" mal contada

Pocahontas, nascida Matoaka, conhecida depois como Amonute (Werowocomoco, c. 1594 – Gravesend (Inglaterra), 21 de março de 1617) foi uma ameríndia, filha de Wahunsunacock (conhecido também como Chefe Powhatan) que governava uma área que abrangia quase todas as tribos do litoral do estado da Virgínia (região chamada pelos índios de Tenakomakah).

Pocahontas casou-se com o inglês John Rolfe, tornando-se uma celebridade no fim de sua vida.

A vida de Pocahontas deu margem a muitas lendas. Tudo que se sabe sobre ela foi transmitido oralmente de uma geração para outra, de modo que sua real história permanece controversa.

A história conta que ela salvou o inglês John Smith, que iria ser executado pelo seu pai em 1607. Possivelmente seria morto, mas Pocahontas interveio, conseguindo convencer o pai que a morte de John Smith atrairia o ódio dos colonos

Nessa época, Pocahontas teria apenas entre dez e onze anos de idade. Smith era um homem de meia-idade, de cabelos castanhos, de barba e cabelos longos. Ele era um dos líderes colonos e, em 1607, fora raptado por caçadores Powhatan.

Graças a esse evento (e a mais duas oportunidades em que Pocahontas voltou a salvar a vida dos colonos), os Powhatans fizeram as pazes com os colonos.

Ao contrário do que dizem os romances sobre as suas vidas, Pocahontas e Smith nunca se apaixonaram. Smith serviu como um tutor da língua e dos costumes ingleses para Pocahontas. Em 1609, um acidente com pólvora obrigou John Smith a ir tratar-se na Inglaterra, mas os colonos disseram a Pocahontas que Smith teria morrido.

A verdadeira história de Pocahontas tem um triste final. Em 1612, com apenas dezassete anos, ela foi aprisionada pelos ingleses enquanto estava numa visita social e foi mantida na prisão de Jamestown por mais de um ano. Durante o período de captura, o inglês John Rolfe demonstrou um especial interesse na jovem prisioneira.

Como condição para Pocahontas ser libertada, ela teve de se casar com Rolfe, que era um dos mais importantes comerciantes ingleses no setor de tabaco. Pocahontas passou um ano prisioneira, mas tratada como um membro da corte.

Alexander Whitaker, eclesiástico inglês, ensinou o cristianismo e aprimorou o inglês de Pocahontas e, quando este providenciou seu batismo cristão, Pocahontas escolheu o nome de Rebecca. Logo após isso, ela teve seu primeiro filho, a qual deu o nome de Thomas Rolfe. Os descendentes de Pocahontas e John Rolfe ficaram conhecidos como Red Rolfes.

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Pocahontas pintada por Simon Van de Passe em 1616

Em 1616, Rolfe, Pocahontas e Thomas viajaram para Inglaterra. Junto a eles, também viajaram onze membros da tribo Powhatan, incluindo o sacerdote Tomocomo. Na Inglaterra, Pocahontas descobriu que Smith estava vivo, mas não pôde encontrá-lo, pois estava viajando. Mas Smith mandou uma carta à rainha Ana, pedindo que fosse tratada com nobreza. Pocahontas e os membros da tribo tornaram-se imensamente populares entre os nobres e, em determinada altura, Pocahontas e Tomocomo encontraram-se com o rei James, que simpatizou com ambos.

Em 1617, Pocahontas e John Smith reencontraram-se. Smith escreveu num dos seus livros que, durante o reencontro, Pocahontas não lhe disse uma palavra mas, quando tiveram a oportunidade de conversar sozinhos por horas, ela declarou estar dececionada com ele, por não a ter ajudado a manter a paz entre sua tribo e os colonos.

Meses depois, Rolfe e Pocahontas decidiram retornar à Virgínia, mas uma doença de Pocahontas (provavelmente a varíola, pneumonia ou tuberculose) obrigou o navio em que estavam a voltar para Gravesend, em Kent, na Inglaterra, onde Pocahontas morreu.

Após sua morte, diversos romances sobre sua história foram escritos, sendo que todos retratavam um romance entre Smith e Pocahontas. A maioria, ainda, tratava John Rolfe como um vilão, que teria separado os dois e casado com Pocahontas à força. Apesar de sua fama, as representações encontradas sobre Pocahontas sempre foram de caráter fantasioso, sendo a mais real figura de Pocahontas a pintura de Simon Van de Passe, que foi feita em 1616.

Hoje em dia, muitas pessoas tentam associar a sua árvore genealógica a Pocahontas, incluindo o ex-presidente George W. Bush, mas na verdade ele será descendente apenas de John Rolfe. Fonte: Wikipédia

 

John Smith partiu para o mar aos 16 anos depois que seu pai morreu. Serviu como mercenário no exército de Henrique IV da França contra os espanhóis, lutando pela independência holandesa do rei Filipe II da Espanha . 

Depois foi para o Mediterrâneo, onde se envolveu no comércio e pirataria, e mais tarde lutou contra os turcos otomanos na Longa Guerra Turca . Foi promovido a capitão de cavalaria enquanto lutava pelos Habsburgos austríacos na Hungria na campanha de Miguel, o Bravo , em 1600 e 1601. Após a morte de Miguel, o Bravo, lutou por Radu Șerban na Valáquia contra o vassalo otomano Ieremia Movilă, príncipe da Moldávia.

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Radu Șerban da Valáquia 

Em 1602 foi ferido numa escaramuça pelos tártaros da Crimeia, capturado e vendido como escravo, tendo sido levado para a Crimeia de onde escapou para a Moscóvia, e posteriormente atravessou parte da Europa com destino ao norte de África e daqui retornou à Inglaterra em 1604.

A partir de 1606, foi iniciada a colonização da América pelos ingleses com base em duas companhias privadas a saber: a Companhia de Plymouth a qual estava incumbida da colonização da parte sul da costa Atlântica do território que posteriormente veio a integrar o atual país dos Estados Unidos da América e a Companhia de Londres que tinha por incumbência colonizar a parte norte. Para o capitão John Smith era “ouro sobre o azul” esta nova aventura da colonização.

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Réplicas do “Susan Constant”, do “Godspeed” e do “Discovery” no cais em Jamestown

Em 14 de Maio de 1607, três navios ingleses, o “Susan Constant”, o “Godspeed” e o “Discovery”, que tinham partido de Londres em 20 de Dezembro de 1606 com aproximadamente 144 colonos e marinheiros (entre eles encontrava-se John Smith), desembarcaram numa baía da costa atlântica da América e estabeleceram o primeiro assentamento colonial na América do Norte, em nome da Companhia da Virgínia de Londres, assentamente esse que seria chamado de “Jamestown” em honra do rei inglês James I.

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James I - Inglaterra

As companhias que atuavam nesta “colonização” deviam obediência à coroa Inglesa tendo, no entanto, liberdade de gestão para fazerem o que muito bem entendessem.

Durante a viagem, nas Canárias, onde a esquadra tinha fundeado para aguada, John Smith foi acusado de motim e preso pelo comandante da esquadra capitão Cristopher Newport, situação essa em que fez o resto da viagem para a América. O comandante da esquadra tencionava enforcá-lo logo que chegassem a terra.

O primeiro desembarque na América foi em “Cape Henry” a 26 de Abril de 1607.

 

“Cape Henry” localiza-se, no mapa abaixo, na parte Sul da barra de entrada para “Chesapeake Bay”

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“Jamestown” localiza-se num braço de mar, logo à entrada da Baía de “Chesapeake” no atual Estado da Virgínia

 

Neste desembarque foi aberta uma “carta de prego” da Companhia da Virgínia de Londres designando o capitão John Smith como um dos líderes da nova colónia, poupando-o assim à forca. Sorte de aventureiro! É de notar que John Smith não era nobre por nascimento o que lhe acarretava ouma certa animosidade por parte de outros colonos, que eram nobres por nascimento, mas sem dinheiro.

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Desembarque dos colonos em Jamestown

Em 28 de Maio de 1607 os colonos, após um ataque dos indígenas, iniciaram a construção de um forte.

 

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Início da construção do Forte de Jamestown 28 de Maio de 1607

 

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Forte concluído em Jamestown – Virgínia a 15 de Junho de 1607

Em 15 de Junho de 1607 os colonos terminaram a construção do forte e o comandante da frota, capitão Christopher Newport, retornou para a Inglaterra deixando em terra 104 colonos com alimentos suficientes só para cada um ter direito diariamente a um caneca de farinha. Todos os dias alguém morria devido às condições insalubres do local (o sítio era pantanoso) e a doenças generalizadas. Em Setembro, dos 104 que tinham deixado a Inglaterra só 44 estavam vivos. Entre eles encontrava-se o capitão John Smith.

No início Janeiro de 1608, perto de 100 novos colonos chegaram, vindos no “First Supply” comandado pelo capitão Newport. Nessa altura, por negligência, a aldeia do colonato que estava a ser construída ardeu completamente. O rio James congelou e a comida era cada vez mais escassa. John Smith escreveu que “mais da metade de nós morreu”.

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Réplica de uma chalupa, como a usada pelo capitão John Smith para fazer a primeira exploração europeia detalhada da baía de Chesapeake.

Museu Marítimo da Baía de Chesapeake

No Verão de 1608, Smith deixou Jamestown e foi fazer a exploração da Baía de Chesapeake tendo efetuado um levantamento topográfico que esteve em uso por mais de cem anos. Na sua ausência ficou em seu lugar um seu amigo, Matthew Scrivener, que se revelou incapaz de liderar a colónia. Em Setembro de 1608 o capitão John Smith foi eleito presidente do conselho local.

Em Outubro de 1608 chegou, no mesmo navio e com o mesmo comandante, um carregamento de suprimentos e 70 novos colonos, artesãos eslovacos, polacos e alemães e as primeiras mulheres a chegarem à colónia. Mas, nada de mantimentos.

Estes fretes vindos da Inglaterra eram pagos em matérias-primas pelas colónias. Este deveria ser pago por Smith ao comandante Newport com piche, alcatrão, tábuas serradas, cinza de sabão e vidro, donde se depreende que eram materiais produzidos pelos colonos.

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Atmosfera de contestação entre colonos, a maioria nobres aventureiros que iam para o novo mundo, não para trabalhar mas para “enricar”

Entre os colonos, na altura lavrava um início de revolta, uma espécie de greve ao trabalho, com alguma razão, já que as condições de sobrevivência eram péssimas. Continuava a existir uma grande carência de alimentos e, embora as relações com os índios ameríndios fossem mais ou menos cordiais – os índios já tinham ajudado com algum alimento – Smith exigiu aos índios, com ameaça de força militar, que lhe fornecessem alimentos (milho).

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Índios de Jamestown

Na altura também descobriu que havia uma conspiração entre colonos descontentes e índios no sentido de lhe tirarem a vida, tendo sido avisado por Pocahontas. John Smith convocou uma reunião e ameaçou os colonos de lhes cortar as rações – “aquele que não trabalhar não come”.

Em Dezembro de 1608 Smith andava à procura de comida ao longo do rio e foi capturado por índios chefiados por “Opechancanough” irmão do chefe Powhatan, irmão mais velho do captor, tendo sido levado para a aldeia de “Werowocomoco” da Confederação Powhatan. Aparentemente os índios pretendiam "iniciar" John Smith como membro da tribo mas as cerimónias tinham ares de uma execução ritual. possivelmente foi Pocahontas que o conseguiu salvar. Ou talvez não! O que aconteceu depois é bastante confuso, ao ponto de só estar claro que nada aconteceu a Smith, já que continuou vivo.

O ano de 1608 ainda tem um episódio difícil de localizar no tempo – mês e dia - que diz respeito a Pocahontas e que aparentemente está ligado a este rapto.

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Pocahontas impede a morte de John Smith

“Pocahontas salvou Smith pela segunda vez. O chefe Powhatan convidou Smith e alguns outros colonos para Werowocomoco em termos amigáveis, mas Pocahontas veio à cabana onde eles estavam hospedados e os avisou que Powhatan estava a planear matá-los. Eles ficaram em alerta mas o ataque nunca veio.”

Smith, General Historie

Na primavera de 1609 a localidade de Jamestown prosperava, com muitas moradias construídas, terras agrícolas limpas e muitos outros trabalhos realizados quando apareceu uma praga de ratos que, em conjunto com a humidade destruiu todo o milho que se encontrava nos armazéns.

Sem comida, Smith mandou um grande grupo de colonos para o rio pescar e apanhar marisco, que voltaram sem nada mas dispostos a usar as escassas rações ainda disponíveis. Smith irritou-se e mandou-os trocar com os índios as armas e ferramentas pessoais por alimentos e disse-lhes que “ou trabalhavam ou eram banidos”.

 

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Desembarque de colonos em Jamestown

A política da Companhia era enviar o mais possível de colonos para Jamestown sem cuidar das condições que eram da conta de Smith, que começou a ficar farto de tanto problema. Sem condições, recebeu 300 novos colonos em Agosto de 1609.

Em Setembro de 1609, quando se encontrava a navegar na sua chalupa, uma explosão da pólvora do polvorinho que tinha à cintura feriu-o gravemente numa perna.

Em Outubro de 1609 viajou para a Inglaterra para tratamento onde chegou em Novembro desse mesmo ano. Não se sabe quanto tempo demorou a recuperação pois a ferida, segundo rezam os livros, ia-lhe levando uma perna,

A Inglaterra, na altura, assistia ao início da sua expansão como potência baleeira que pretendia rivalizar com as outras nações da Europa entre elas a Holanda e os Bascos.

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Selo da Companhia de Moscóvia, mostrando a data de 1555 acima de um escudo de armas

 

A Moscovia Company, que já conhecemos do Post 59 e que tinha sede na altura em Londres, tinha financiado em 1607 uma expedição de Henry Hudson para descobrir a “Rota do Norte para o Extremo Oriente”, coisa que ele não fez pois não conseguiu romper o campo de gelo do mar Ártico. Em compensação, descobriu nas águas da ilha de Spitsbergenum campo de caça de Baleias da Groenlândia que lhes proporcionou um enorme rendimento durante dois anos em que enviaram para o local uma frota de baleeiros a partir de 1610.

O êxito da companhia não passou despercebido às outras nações rivais e, em 1613 o exclusivo da Companhia, que nunca foi pedido, foi “assaltado” pelos Holandeses que também queriam participar no banquete, seguidos por outras nações.

Quando a frota da companhia chegou ao mar de Barents, já por lá navegavam os holandeses. Geraram-se vários acidentes mas prevaleceu o bom senso no final e acordaram que podiam dividir os campos pelas duas frotas.

  • Willem Barentsz (Terschelling, Ilhas Frísias, ca. 1550 —  Nova Zembla, 20 de junho de 1597) foi um navegador holandês que explorou as regiões do Oceano Ártico em busca de uma passagem que permitisse atingir o Extremo Oriente através de uma rota circumpolar. Empreendeu três expedições, explorando a costa norte da Escandinávia, o mar da Carélia (hoje Mar de Barentsz em sua homenagem) e atingiu as costas das ilhas de Nova Zembla e de Spitsbergen, sendo o primeiro europeu a dar notícias seguras da sua existência e características. Fonte; Wikipédia

Não existe notícia do que John Smith fez durante o período de chegada à Inglaterra em Novembro de 1609 até Março de 1614 a não ser que publicou duas obras em Oxford: “A Map of Virginia with a Description of the Countrey” que inclui o mapa por ele desenhado “Virginia: Discovered and discribed” e ”The Procedings of the English Colonie in Virginia”.

No entanto podemos especular que, com o seu espírito aventureiro nada destas “atrativas aventuras baleeiras” lhe foi desconhecido.

O capitão Smith, durante a sua permanência na Virgínia, não teve grande contato com baleias já que, muito raramente, apareciam pela entrada baía de Chesapeake que foi a área onde ele navegou. No entanto, já tinha conhecimento da baleação nas costas da América com base em relatos de outros exploradores/viajantes por outras zonas.

Em 1602, por altura da primavera, Bartholomew Gosnold partiu de Falmouth – na Cornualha, na ponta Sul da Grã Bretanha – com destino ao Novo Mundo com a intenção de fundar uma colónia, tendo-se dirigido para uma costa onde sabia que o bacalhau era abundante nas suas águas. Os europeus já pescavam bacalhau para a sua alimentação. Incluíndo os portugueses. Ele e os companheiros desembarcaram na ilha Cuttyhunk, onde encontraram, ao longo da praia, “muitos ossos e costelas de baleias enormes”.

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A ilha de “Cuttyhunk” na costa do Maine – Massachusetts

Em 1605, George Waymouth, também inglês, partiu para a América tendo avistado terra por alturas de Cape Cod tendo continuado a navegar para o norte ao longo da costa do Maine.

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A costa da Nova Inglaterra - Nantucket para Norte

Carta marítima de 1776, abrangendo de Sul para Norte: Nantucket, Martha’s Vineyard, Cape Codd Bay, Boston Harbour, Cape Anne, Isles of Shoals, Cape Noddick Nubble, Casco Bay, Penobscot Bay, Frenchmans Bay, Machiny Bay.

Latitude 40 20’ N a 44▫ 50’ N

Longitude 67▫ 10’ a 71▫ 30’

 

Waymouth, além de avistar baleias, trouxe uma história de caça à baleia pelos Índios narrada por um dos seus homens:

“Uma coisa especial é a sua maneira de matar a baleia, que eles chamam de <Powdawe>, o que descreve a sua forma de soprar a água; e que ela tem 12 braças de comprimento; e que eles vão em companhia do seu rei com uma multidão de seus barcos, e a ferem com um osso feito de ferro de harpa amarrado a uma corda, que eles fazem grande e forte com a casca das árvores, que eles estendem atrás dela; então todos os seus barcos a cercam e, subindo ela sobre as águas, com suas flechas a matam; quando a matam e arrastam para a praia eles chamam todos os seus principais senhores juntos e cantam uma canção de alegria.”

In: ROSIER, James, Prosperous Voyage, March of America Facsimile Series 17 (1605, reprint, Ann Arbor, MI: University Microfilms, 1966).

Toda esta informação se encontrava disponível para John Smith e é fortemente plausível, por iniciativas que ele tomou, que tivesse adquirido este conhecimento.

De uma forma escrita ou transmitidas oralmente, estas “estórias” – incluindo as informações contidas nos textos do capitão John Smith – devem ser encaradas de uma forma criteriosa pois muitas das vezes são resultado de “ligeiras invenções” com pouca ou nenhuma confirmação.

É o caso desta Estória da caça à baleia pelas tribos aborígenes da América do Norte, antes da chegada dos colonos, como prática normal de procura de alimentos. Na realidade, até hoje e no que diz respeito à caça de baleias, não existem nenhumas evidências arqueológicas que tal fosse praticado pelos índios americanos que, como qualquer outro povo habitante das costas marinhas, conhecia as baleias e alimentava-se delas, das que apareciam arrojadas na costa, já mortas ou que lá morriam, o que é um fato confirmado. A caça à baleia não era uma prática normal das tribos aborígenes da América do Norte (com exceção dos povos “inuit”, no norte da América do Norte).

Após o advento da baleação, trazida pelos colonos ingleses – e não só – o mesmo já não se pode dizer pois, os índios “Wampanoag” – zona da costa sul de Massachusetts – integraram as tripulações baleeiras e desempenharam funções na baleação de uma forma competente, como tripulantes indiferenciados nos botes e barcos baleiros, passando pelas atividade de transformação e aproveitamento da baleia e inclusive, até no comando de navios baleeiros.

 Amos Haskins

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Índio Wampanoag navegou em seis viagens baleeiras entre 1839-1861, quando se perdeu no mar. Foi subindo na hierarquia até que, em 1851, foi nomeado mestre da barca ”Massasoit”

 

Assim, em 1614, o capitão John Smith sabia que nas costas do Norte da Virgínia havia baleias com fartura com as quais, tanto ele como quem o apoiasse, poderiam enriquecer.

Com esta motivação como base, aliada ao seu espírito aventureiro, procurou quem estivesse interessado no financiamento de uma expedição ao Novo Mundo, para exploração e potencial colonização de uma vasta área, situada entre os paralelos 38▫ e 45▫ de latitude Norte, a norte da Virgínia, área essa que tinha sido autorizada para colonização pelo rei Jaime I da Inglaterra, em 1606.

E encontrou interessados nas pessoas de Marmaduke Roydon, George Langam, John Buley e William Skelton que financiaram a viagem de Smith para aquela zona da parte norte da Virgínia, que ele mais tarde batizaria de Nova Inglaterra.

  • Marmaduke‎‎ Roydon – Sir Marmaduke Roydon (também Rawdon e Rawden, com Royden uma ortografia contemporânea) (1583 - 28 de abril de 1646) foi um comerciante-aventureiro inglês e plantador colonial, também conhecido como um oficial do exército da monarquia.‎ Fonte:Wikipédia

Mais tarde Smith escreveu: “Como eu gostava muito da Virgínia, embora não gostasse dos seus procedimentos, desejei também ver este país e passar algum tempo tentando explorar o que pudesse encontrar.”

 

 

Nunca mais voltou à Virgínia mas …

…voltou ao Novo Mundo

(continua)

Bons Ventos e…

Um abraço

 

 

 

 

 

07.05.22

59 – Modelismo Naval 6.2.3 – Baleação – Uma mini-história


marearte

 

 

 

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GENESIS 1:21

E Deus criou as grandes baleias

e toda criatura vivente que se move,

que as águas trouxeram abundantemente conforme sua espécie,

e toda ave alada conforme sua espécie; 

e Deus viu que era bom

(Embora seja evolucionista)

 

(continuação)

Linha de Tempo da Baleação Americana

1 - Baleação Pré-americana nos mares do Atlântico

 

 1 - O Início                                                              Baía Farta/Dungo/Angola - 350.000 anos BCE

Muito provavelmente, o primeiro encontro com contacto entre pessoas e baleias, não se efetuou no mar mas sim em terra, na costa, onde uma qualquer grande baleia encalhou por desorientação, ferimento resultante de luta com um outro “monstro” marinho, ou por simples acaso, e foi encontrada por uma pessoa - ou um grupo de pessoas - que se encontrava na tarefa diária de recolha de alimentos para si ou para a tribo. Assustou-se com o tamanho desmesurado daquele peixe que, moribundo, o fixava com um olho pequeno em relação à cabeça e com estertores no corpo, que rapidamente cessaram.

Depressa o “achador” se apercebeu da possibilidade de aproveitamento daquele “peixe”, como alimento para si e para os seus companheiros.

Muitos “arrojamentos” na costa aconteceram e as pessoas aprenderam a tirar proveito desses acontecimentos, cortando as baleias para alimentação e usando partes dos seus corpos e os ossos para materiais de construção e para fabrico de utensílios diversos.

 

Muito tempo depois...

 

2 - Os Bascos                                                                                                                        1400 / 1700

Num momento qualquer, os homens foram para o mar à pesca e tambem num outro momento aprenderam a caçar baleias, existindo hoje bastantes evidências que documentam esta situação.

Como é que começou a caça à baleia como atividade piscatória?

Todas as evidências só deixam uma imagem pouco focada e levantam algumas dúvidas. Certo, certo é que, tanto os fenícios, como os gregos e os romanos, comiam carne de baleia que pode ter sido obtida através de caça e não só de encalhes de baleias na costa.

 

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Golfo de Biscaia na costa Norte da Espanha  e Oeste da França – País Basco 

Mar Cantábrico, Oceano Atlântico 

O 1º “campo de caça” dos Bascos

 

Para ter certezas (as possíveis) temos de acelerar a Linha do Tempo e saltar para alguns séculos depois para a costa do Golfo da Biscaia onde os Bascos, por volta do século VII ou VIII, construíram torres de pedra (chamadas vigias) que permitiam a observação do mar e a possível localização de Baleias Francas que, em grande número, frequentavam aquelas águas.

 

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Baleia Franca do Atlântico Norte (Eubalæna glacialis)

 

  • Apesar de originalmente ter sido comum por todo o Atlântico Norte, é hoje em dia encontrada essencialmente ao longo da costa norte-americana sendo que a população do Atlântico Norte Europeu está criticamente ameaçada. A WWF calcula a população total de indivíduos desta espécie entre 300 e 350 animais.
  • A sua caça (assim como a de outras baleias-francas), que existiu pelo menos desde o século X, era bastante popular devido à particularidade dos animais abatidos ficarem a flutuar depois de mortos (ao contrário de outras espécies) facilitando o trabalho dos baleeiros, e dando origem ao seu nome em Inglês, “right whale”, ou seja, a "baleia certa", por ser considerada a melhor baleia para caçar.
  • A facilidade com que a baleia-franca-do-atlântico podia ser caçada em grande escala levou a que o seu número se reduzisse de tal forma que por volta de 1700 já tinha perdido a maior parte da sua importância económica.
  • As baleias francas do Atlântico Norte, adultas, medem entre 13-17 metros de comprimento e pesam aproximadamente 40.000 a 80.000 kg.  As fêmeas são maiores que os machos; a maior fêmea medida possuía 18,5 m, enquanto o maior macho possuía 17,1 m. Jovens baleias-francas medem cerca de 4 m. Podem atingir 90 toneladas e supostamente chegar até 106 t. Fonte: Wikipédia

 

Localização feita, e era acionado um sistema de alerta e congregação de esforços que, através de fumo de fogueiras e/ou rufar de tambores ou outra sinalética, convocava os homens para se concentrarem junto a pequenos botes, já prontos para a caça à baleia que saíam em sua perseguição.

Apesar da sua reputação de docilidade, as baleias francas nem sempre eram vítimas fáceis; logo que eram arpoadas podiam rapidamente tornar-se perigosas. Podiam agitar a poderosa cauda e golpear a superfície do mar despedaçando, não por poucas vezes, o bote baleeiro que estava ao seu lado, mesmo à mão (barbatana) de semear. E isto aconteceu não tão poucas vezes como isso.

147 ~Chalupa Baleeira Basca-Reconstrução Arqueol

Um Bote Baleeiro Basco

Destroço arqueológico recuperado 

 

Os bascos sempre foram considerados como exímios pescadores e quando descobriram estes maravilhosos animais, iniciaram a sua perseguição, aprendendo com a prática de tentativa e erro, tornando-se também exímios baleeiros.

Não se sabe ao certo como é que tal “indústria” foi iniciada mas, além da perseguição do lucro económico, o papel da Igreja Católica parece também ter tido algum destaque.

Entre as várias e diversas obrigações dos crentes, impostas pela Igreja, uma havia que lhes interditava comer “carne de sangue vermelho” em dias santos, argumentando que era “quente”, associada ao sexo, que também era uma das proibições em dias santos. Visto isto, como a carne de baleia era vista como “fria” e, aparentemente não levantava problemas libidinosos, tal como a carne das caudas dos castores que também era considerada como “fria”, a Igreja consentia no seu consumo em dias santos.

 

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Carne de baleia vendida no Japão (atualmente)

 

É de recordar que isto se passou em plena Época Medieval, cheia de crendices e assombrações e com pouca, ou nenhuma informação científica. A carne de baleia tinha elevada procura, assim houvesse oferta suficiente. Os bascos contribuíram com uma grossa fatia para essa oferta.

Além da carne que se tornou um produto popular, temos também como derivados, o óleo extraído da gordura das baleias – que servia para lubrificante, para calafetar navios quando combinado com alcatrão e serradura de madeira, no fabrico de sabão, na limpeza da lã grossa usada nas roupas e, na sua mais difundida aplicação, como fonte de luz quando queimado tomando o nome de “Lumera” – bem como as “barbas” que tiveram as mais diversas aplicações. Ao longo da costa, em pontos estratégicos, localizavam-se diversas “estações baleeiras” à dimensão da época, que manuseavam e transformavam os diferentes produtos derivados da caça da baleia.

 

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Diferentes amostras (antigas) de Óleo de Baleia, provenientes de espécies diferentes de baleias

 

Na época medieval os Flamengos, os Franceses, os Islandeses e os Noruegueses também fizeram companhia aos Bascos nestas “caçadas” por todo o Atlântico Norte, mas foram estes últimos que foram melhor sucedidos nesta indústria florescente.

Cerca do ano de 1540 os Bascos expandiram-se até às costas do Labrador e da Terra Nova onde, estima-se, nas décadas de 1560 e 1570 mais de mil baleeiros bascos produziram mais de quinhentos mil galões (1.895.000 l) de óleo de baleia, todos os anos.

 

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Labrador (no continente, à esquerda) e Terra Nova (a ilha) no actual Canadá

 

3 - Cobiça e Confrontos (como não podia deixar de ser)

Os Ingleses, que se encontravam ali bem perto e que observavam como o sucesso batia à porta dos Bascos, no final de 1500 também foram balear, arranjando assim uma forma de iniciar a construção do seu poder económico. As primeiras viagens de baleação foram em direcção à Islândia e à Terra Nova. Mas foi só a partir de 1611, quando se interessaram pela caça mais para o Norte bem perto do Círculo Polar Ártico, que nasceu a indústria baleeira Inglesa. Henry Hudson, o explorador e aventureiro inglês, foi quem chamou a atenção dos ingleses para esta zona.

 

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Henry Hudson

A Companhia de Moscóvia (Muscovy Company), também conhecida por Companhia Russa e também por Companhia Comercial de Moscóvia, fundada em 1555 na Inglaterra, sendo a primeira “companhia anonima fretada”, foi percursora de um tipo de negócios que viria a florescer na Inglaterra (e no mundo "civilizado") e tinha como associados, entre outros, Henry Hudson. Até 1698 esta companhia manteve o monopólio da maioria do comércio da Inglaterra. Um dos associados era o “Principado de Moscóvia”, que tinha o monopólio do comércio com a Inglaterra.

 

  • Uma “companhia anonima fretada” era uma associação com investidores ou acionistas anónimos e cujos direitos eram concedidos por carta régia para fins de comércio, exploração e/ou colonização. Fonte: Wikipédia

                                                                

  • O Grão-Ducado de Moscou (em russo: Великое Княжество Московское), também conhecido como “Principado de Moscou” (княжество Московское), Moscóvia ou Grão-Principado de Moscou, foi a entidade política antecessora do Império Russo. Fonte: Wikipédia

 

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Principado de Moscóvia - Desenvolvimento territorial entre 1390 e 1530.

 

Esta companhia incumbiu Henry Hudson em 1607 da descoberta da Rota do Norte para o Extremo Oriente o que ele não conseguiu, impedido pelo gelo do Ártico. Em contrapartida encontrou uma enorme concentração de baleias ao redor da ilha de Spitsbergen que pareciam baleias francas mas eram, na verdade, Baleias da Groenlândia (Balæna Mysticetus)

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Mapa do arquipélago de Esvalbarda com a ilha de Spitsbergen ao alto, à esquerda

  • Spitsbergen é a maior das ilhas do arqupélago ártico de Esvalbarda, com 23.641 KM2 e 2.500 habitantes, dos quais 60% são noruegueses e 35% russos e ucranianos. É um território sob soberania da Noruega, embora sujeito a um regime específico de acesso aos seus recursos naturais pela comunidade internacional, nos termos do Tratado de Esvalbarda assinado em Paris a 9 de Fevereiro de 1920. Fonte: Wikipédia

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Baleia da Groenlândia (Balæna mysticetus),

  • A Baleia da Groenlândia (Balæna mysticetus), baleia franca da Groenlândia, baleia polar ou baleia russa, é um mamífero marinho da ordem dos cetáceos e da família Balænidæ que vive nas águas geladas e férteis do Oceano Ártico e sub Àrtico. Fonte: Wikipédia

 

Em 1610 a Companhia de Moscóvia enviou uma nova expedição para comprovar as observações de Henry Hudson e, sendo positiva esta comprovação, iniciou a caça à baleia tendo enviado navios baleeiros para a zona do arquipélago de Svalvard, a Este da Groenlândia e a Noroeste da Noruega no mar de Barrents, mas não pediram a concessão exclusiva destes campos de caça.

Durante dois anos caçaram o que quiseram e como quiseram mas, como obtiveram sucesso que depressa chegou ao conhecimento de outras nações, estas apressaram-se a também aproveitar o maná, o que irritou a Companhia de Moscóvia. Em 1613 a companhia solicitou ao rei Jaime I uma carta régia que lhe deu exclusividade do direito às baleias de Spitsbergen.

Nesse mesmo ano a Companhia de Moscóvia enviou 7 baleeiros para a zona, fortemente armados que foram confrontados com quase vinte baleeiros de outros países o que levou a que a temporada fosse de poucas baleias mas cheia de altercações, abordagens e apreensões de carga, como no caso de um navio holandês que foi apresado e levado para Inglaterra com tripulantes ingleses, sendo mais tarde libertado.

Os holandeses também ficaram irritados pois, segundo os anais, a ilha de Spitsbergen não tinha sido descoberta por Henry Hudson já que Willem Barrents o tinha feito anteriormente em 1596, numa viagem também para descobrir a Rota do Norte para o Extremo Oriente. Depois de passar o paralelo 80, Barrents descobriu uma ilha escarpada, com “colinas pontiagudas”, cuja tradução para o holandês é ...“Spitsbergen”, o nome da ilha. Os holandeses resolveram então formar uma nova companhia baleeira e reivindicar a posse da ilha, que lhes foi concedida pelo governo holandês.

 

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A passagem do Noroeste que liga o Atlântico ao Pacífico (traço vermelho)

 

Um apontamento sobre a História da exploração da Passagem do Noroeste

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A Passagem do Noroeste (1874), pintura de John Everett Millais representando a frustração britânica pelas falhas sucessivas na sua descoberta

  • Em meados do século XV os turcos otomanos tomaram o controlo do Médio Oriente, com a Queda de Constantinopla, impedindo as potências europeias de viajar até à Ásia por via terrestre, o que motivou a procura de caminhos marítimos e a era dos Descobrimentos Portugueses e de outras nações.
  • Em 1497, O rei Henrique VII da Inglaterra enviou John Cabot à procura do que os ingleses chamariam Passagem do Noroeste, que seria feita por um lendário Estreito de Anian. Encontrar Anian foi um dos maiores objectivos dos exploradores marítimos dos séculos XVII a XIX. As rotas marítimas mais propícias entre a Europa e o Extremo Oriente passavam pelo sul da América ou de África mas estavam bloqueadas durante o século XVI pelas armadas de Espanha e Portugal.
  • Em 1500, o Rei D. Manuel I de Portugal terá enviado Gaspar Corte-Real à descoberta de terras e de uma "Passagem noroeste para a Ásia". Corte-Real chegou à Groenlândia pensando ser a Ásia, mas não desembarcou. Numa segunda viagem à Groenlândia em 1501, com o seu irmão Miguel Corte-Real em três caravelas. encontraram o mar gelado, e mudaram o rumo para Sul, chegando a terra, que se pensa ter sido Labrador e Terra Nova.
  • Em 1588, durante uma viagem do governador das Filipinas, D. Lorenzo Ferrer Maldonado, o piloto português João Martins conseguiu aquela que foi a primeira conquista da Passagem Noroeste, descobrindo também o que mais tarde se viria a chamar Estreito de Bering.
  • Além de Cabot, navegadores como Martin Frobisher, Willem Barents, Francis Drake ou James Cook exploraram as gélidas e inóspitas águas do norte do Canadá. Alguns acabaram derrotados pelo frio extremo e ventos contrários.
  • A história de James Cook é diferente e reveladora. Como afirma o antropólogo Marshall Sahlins, é um exemplo significativo da relação intercultural entre os exploradores europeus e as populações nativas. Cook, primeiramente recebido como um Deus  (o tão esperado Deus Tono, de acordo com a historiografia Hawaiana), foi recebido com festa e presenteado com a princesa Hawaiana e recebido com uma grande festa, com direito a dez mil pessoas cantando e louvando, na praia, a chegada do tão esperado Deus. Quando o rei Hawaiano Kalaniopu´s percebe o poder que Cook havia conquistado, é organizada uma situação na qual Cook é obrigado a enfrentá-lo. Cook acaba esfaqueado e morto (não se sabe ao certo por quem)  pelas mesmas pessoas que o endeusaram poucas semanas antes. Para mais detalhes, consultar o capítulo 4 do livro "Ilhas de História", de Marshall Sahlins.
  • Henry Hudson também tentou encontrá-la quando explorava a Baía de Hudson, mas foi abandonado pela tripulação amotinada para morrer de fome ou frio. Em 1789, Alexander Mackenzie descobriria o rio que leva o seu nome. Durante um tempo a procura da Passagem do Noroeste foi abandonada.
  • Em 1817 o governo britânico ofereceu uma recompensa de 20 000 libras esterlinas para quem achasse a citada passagem, o que incentivou a organização de numerosas expedições. De todas as que foram feitas a viagem mais trágica foi sem dúvida a de Sir John Franklin, efetuada em 1845, da qual ninguém regressaria vivo.
  • Em 1906 o norueguês Roald Amundsen conseguiu alcançar com um pequeno veleiro a costa pacífica do Alasca após uma viagem de três anos, fazendo a primeira travessia da passagem noroeste do mundo modernoFonte: Wikipédia

 

 No Verão de 1614 os holandeses decidiram impor o seu monopólio e enviaram em direção ao Norte 14 baleeiros escoltados por quatro navios de guerra, cada um com trinta canhões. À sua espera estava uma frota igualmente determinada defendida por navios de guerra da Companhia Moscóvia.

 

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Quase Guerra

Tudo se congregava para acontecer a primeira batalha a nível mundial entre baleeiros. Mas, ao contrário de outros, prevaleceu o bom senso. Em vez de lutarem entre si e arriscar maus resultados os holandeses e os ingleses dividiram os campos baleeiros entre si e procuraram manter todos os outros intrusos afastados, esforçando-se para se estabelecerem como potências baleeiras.

Foi então que John Smith, da Inglaterra, juntamente com 45 homens e rapazes em dois navios, com grandes expectativas, navegaram pelo rio Tamisa abaixo, através do Canal da Mancha e embarcaram numa viagem promissora através do Oceano Atlântico, rumo ao Sul.

 

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Pelo Tamisa, Rumo ao Sul para melhores dias!

 

Bibliografia:

  • "Leviathan - The History of Whaling in America" - DOLIN,  Eric Jay, 2007, W.W. Norton & Company,Inc, New York;
  • "Histórias Conectadas por Mares Revoltos: Uma História da Caça de Baleias nos Estados Unidos e no Brasil (1750-1850)  - CASTELLUCI (Junior), Wellington, 2015, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Brasil;
  • "American Whaling - Chronology" - Roteiro - New Bedford Whaling Museum - acedido em 2022;
  • "History of the American Whale Fishery from its Earliest Inception to the Year of 1876" - Edição Facsimile - STARBUCK, Alexander, 1877, Smithsonion Library, New York.

 

 (continua)

Um abraço e…

Bons Ventos