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Mar & Arte

Artesanato Urbano de Coisas Ligadas ao Mar (e outras)

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Artesanato Urbano de Coisas Ligadas ao Mar (e outras)

07.06.16

24 - Modelismo Naval 6.1.3 - Baleação - Uma introdução e as fontes (conclusão)


marearte

 

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 (Conclusão)

 "Io! Canta! Io! Canta,

um hino ao rei das barbatanas.

Não existe em todo o Atlântico

baleia mais forte do que ele;

nem peixe maior

circula em redor do círculo polar."

 

"Triumph of the Whale", por Charles Lamb, 15/03/1812

 

Caros amigos

 

Além da bibliografia que foi usada por Melville para a feitura da novela "Moby Dick", pessoalmente e no que diz respeito a este conjunto de post's, obtive informação nas seguintes publicações, além da inevitável pesquisa criteriosa na internet:

 

História da baleção no Mundo, com uma visão a partir dos USA

Dois livros (um em papel o outro um e.book) sobre a história da caça à baleia praticada pelos Norte Americanos em todo o mundo.

  • O primeiro "Leviathan - The History of Whaling in America" de Eric Jay Dolin, foi publicado em 2007 e, nesse mesmo ano, foi galardoado com o Prémio J. Byrne Waterman  em "reconhecimento pelas contribuições externas para a pesquisa e pedagogia nas artes, humanidades e ciências" pelo "New Bedford Whaling Museum". 

Dolin, divide o seu livro em 3 partes principais:

  1. Uma primeira, que percorre os anos de 1614 a 1774 que ele titula "Arrival and Ascent", iniciando o primeiro capítulo, com o título de "John Smith Goes Whaling" focando o regresso ao Novo Mundo, em 1614, do capitão John Smith (1580-1631), não a Jamestown, Virgínia, que ele ajudou a fundar - e da qual foi banido em 1609 por questões políticas e também pela sua ligação a Pocahontas, a princesa índia que passou a lenda - mas, desta vez em direcção ao norte da Virgínia a uma área que o Rei James I tinha destinado à colonização oito anos antes, e que viria a ser conhecida como New England (actual Massachussets);
  2. Uma segunda parte, que engloba os anos de 1775 a 1860 com o nome de "Tragedy and Triumph", contando os anos da Revolução bem como a Idade do Ouro da baleação;
  3. Uma terceira e última parte, de 1861 a 1924 a que chamou "Disaster and Decay" que percorre os acontecimentos dos últimos anos da baleação e aponta as suas causas e consequências.

E esta história abrange geograficamente todos os campos de caça que foram usados pelos baleeiros norte americanos.

Duas críticas (de entre muitas) que apareceram na imprensa da época.

  • "O negócio da baleação deixou para trás uma história singularmente rica - um misto de aventura, perigo e lucro - de homens que se fizeram ao mar em navios para caçar as criaturas mais poderosas que já viveram. Essa história é contada, e contada muito bem, por Eric Jay Dolin ... Mr. Dolin lida com este longo conto, complexo, com grande habilidade, tanto como historiador tanto como escritor (a bibliografia e as ilustrações são também esplêndidas ). Graças ao seu comando firme da unidade narrativa do conto, Leviathan é completamente envolvente." John Steele Gordon, Wall Street Journal.

 

  • "Uma excelente visão geral da história da caça à baleia ... O livro é bem pesquisado e está carregado com notas de rodapé que fornecem consistentemente apenas o tipo de informação de que o leitor necessita ... A qualidade da escrita, da edição de texto, e da coerência organizacional do livro são excelentes." Randall R. Reeves, Marine Mammal Science.

Uma crítica da minha lavra, sem citar ninguém:

Por todo o livro perpassa um certo chauvinismo americano e, em muitos casos, em detrimento da verdade histórica tal e qual nós a conhecemos. Por exemplo, quando se trata do Japão do século XVIII/XIX e da dificuldade dos "ingenuos" baleeiros americanos serem aceites pelos japoneses, e reclamando a quase totalidade da exploração do Pacífico para os americanos. Fernão de Magalhâes - e outros - não existiram. Sem dúvida que os baleeiros foram a novas paragens, mas não exageremos. De qualquer forma e ultrapassando tudo isto, foi um prazer ler o livro e seguir as pistas que contem, que considero serem excelentes.

 

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 "Leviathan - The History of Whaling in America"

Eric Jay Dolin

W.W.Norton & Company, Inc. New York - USA, 2007, 479 p.p.

 

  •  O segundo, "History of the American Whale Fishery: From Its Earliest Inception to the Year 1876 (1878)" trata-se de um relatório/história escrito e publicado por Alexander Starbuck em 1878.

Starbuck nasceu em Nantucket, Mass. em 6 de Novembro de 1841 e faleceu em Waltham, Mass. (localizada perto de Boston, a Oeste), em 6 de Maio de 1925. Alexander Starbuck é descendente de Edward Starbuck, que emigrou de Derbyshire, Inglaterra para Dover, New Hampshire, em 1635, tendo sido um dos originais povoadores de Nantucket e patriarca de uma das famílias baleeiras com origem nessa cidade.

A sua profissão original foi a de relojoeiro e fabricante de jóias desde 1859 ao serviço de Andrew Warren, de 1877 a 1883 na fábrica do American Watch Co. e depois na American Watch Tool Co., sempre em Waltham, até se reformar.

Com uma "veia" de jornalista tornou-se, em 1885, editor do semanário "Waltham Free Press" que passou a diário em 1888. Em 1897 o diário passou a chamar-se "Daily Free Press-Tribune" do qual foi editor até 1922, quando se reformou. Também neste periodo foi o director da "Waltham Publishing Co."

Conceituado como jornalista, também se dedicou à investigação histórica essencialmente ligada a Nantucket e à baleação tendo, também nesta actividade, atingido uma grande notariedade.

Publicou os seguintes livros:

  • 1878 - "History of the American Whale Fishery";
  • 1880 - A secção sobre Waltham da Drake's "History of Middlesex County"; 
  • 1903 - "A Century of Free Masonary in Nantucket";
  • 1921 - "A History of Monitor Lodge, A.F. and A.M., of Waltham";
  • 1925 - "History of Nantucket".

Foi também um dos fundadores da "Waltham Historical Society" e o seu primeiro presidente.

Neste livro, aborda a história da baleação americana, desde os seus primórdios, ainda como colónia Inglesa, até 1876.

O livro foi dividido em várias épocas a saber:

  • Periodo de 1600 a 1700;
  • Periodo de 1700 a 1750;
  • Periodo de 1750 a 1784;
  • Periodo de 1784 a 1816;
  • Perigos da caça à baleia;
  • Miscelânea;
  • Dados técnicos.

É uma importante fonte de referência, quer histórica, quer nos aspectos técnicos ligados à baleação, na América, como país independente e como colónia inglesa, e nas suas ligações à história da baleação no Mundo.

Um outro livro de Starbuck com bastante interesse é o que ele escreveu em 1925 - "History of Nantucket", cidade cujo nascimento, apogeu e ocaso estão estritamente ligados à baleação, em todas as suas vertentes.

 

 

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 e.book - "History of the American Whale Fishery: From Its Earliest Inception to the Year 1876 (1878)"

 

 

História da baleação em Portugal, Continental, Açores,  Madeira e Colónias

 

"Eubalaena nº 14"

(Eubalaena é o género ao qual pertencem as três espécies existentes de baleias-francas:

  • Eubalaena australis (Baleia-franca-austral);
  • Eubalaena glacialis (Baleia-franca-do-atlântico-norte);
  • Eubalaena japonica (Baleia-franca-do-pacífico).

A E. australis povoa o hemisfério sul e as outras duas espécies habitam o hemisfério norte.)

 

Em Agosto de 2014 a Secção Científica da CEMMA (Coordinadora para o Estudo dos Mamíferos Mariños) da Galiza dedicou o nº 14 da revista "Eubalaena" - "Galicia no Lombo da Balea" - a vários aspectos da baleação, que resultam de várias comunicações apresentadas nas "Xornadas da Confraria do Pindo, Carnota" que se realizaram em 25 e 26 de Junho de 2010 sobre o tema "Caza da Balea en Galicia" e que incluiu os seguintes paper's:

  • HISTORIA AMBIENTAL ANTIGUA DAS BALEAS DO ATLÁNTICO NORTE . Alfredo López. 
  • A BALEACIÓN MEDIEVAL E MODERNA EN PORTUGAL: QUÉ NOS DIN AS FONTES HISTÓRICAS?. Cristina Brito e Vera Jordão. 
  • A FACTORÍA BALEEIRA DE BALEA, CANGAS. Felipe Valdés Hansen. 
  • OS GRANDES CETÁCEOS COMO RECURSO DA PESCA BALEEIRA MODERNA EN GALICIA. Álex Aguilar, Morgana Vighi, Sandra Sánchez e Asunción Borrell. 
  • SOBRE UN INFORME DE TRABALLO PARA A FACTORÍA BALEEIRA DE BALEA (CANGAS, PONTEVEDRA, GALICIA, NO ESPAÑA). Juan José Pino Álvarez.

 

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Estes 5 paper's contêm informação preciosa para o estudo da evolução da baleação na Península Ibérica reportando à pré-historia e passando pelos Bascos, pioneiros nestas coisas, além de dois dos papers se debruçarem sobre aspectos gerais e técnicos ligados às "fábricas da baleia".

Quanto a Portugal, o trabalho apresentado por Cristina Brito (CHAM/Universidade Nova e Escola de Mar) e Vera Jordão (Escola de Mar) - investigadoras portuguesas, dá-nos uma panorâmica sobre a actividade baleeira em Portugal continental quase desde a sua fundação até ao séc. XVI, altura em que a actividade baleeira caíu em desuso até voltar a ter alguma importância a partir de meados do séc. XIX.

 

 História da baleação nos Açores e na Madeira

 

Entre as diferentes fontes existentes sobre a baleação nos Açores e na Madeira - que são muitas - destaco duas que usei maioritáriamente.

Uma primeira, o relatório de Robert Clarke, "Open Boat Whaling in the Azores - The History and Present Methods of a Relic Industry", um repositório de vasta e fundada informação recolhida pelo autor directamente nos Açores e junto dos actores principais da baleação nos Açores - os baleeiros - durante uma missão efectuada em diferentes visitas ao arquipélago a partir de 1949 e que culminou na sua publicação numa monografia na "Discovery Reports, Vol. XXVI, pp. 281-354, Pr. XIII-XVIII, ilus." numa edição do "National Institute of Oceanography, Cambridge University Press" de 1954.

Esta monografia cobre, de uma forma organizada e compreensível, os aspectos referentes à caça à baleia nos seus vários momentos bem como aspectos técnicos dos instrumentos utilizados - as canoas baleeiras e a sua palamenta, as lanchas rebocadoras, o aproveitamento da baleia nas estações, quer de traióis quer as mais modernas - bem como estatísticas de 1896 a 1949 e gravuras da época.

Tem um capítulo dedicado à baleação na Madeira que, embora curto, dá uma sequência histórica fácil de complementar com outra informação e tem um lista bibliográfica com muitos títulos que se encontram com alguma facilidade, além de ligar á frota beleeira americana nas suas estadias no Faial.

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 "Open Boat Whaling in the Azores"

"The History and Present Methods of a Relic Industry"

By

ROBERT CLARKE, M.A.

"Discovery Reports, Vol. XXVI, pp. 281-354, Pr. XIII-XVIII, ilus." February 1954

"National Institute of Oceanography, Cambridge University Press"

 

Uma segunda fonte no que diz respeito aos Açores, temos a obra de Dias de Melo "Na Memória das Gentes".

José Dias de Melo nasceu a 8 de Abril de 1925 na Calheta do Nesquim, Lajes, Ilha do Pico e faleceu a 24 de Setembro de 2008, em Ponta Delgada, Ilha de S. Miguel, tudo nos Açores. Dias de Melo foi romancista, contista e poeta numa linha neorealista tendo contribuído com uma vasta obra cobrindo vários temas, para o rico panorama cultural dos Açores.

Destaco, desta vasta obra, os 3 Livros de carácter etnográfico "Na Memória das Gentes", em particular os 3 volumes do Livro I nos quais Dias de Melo, coloca as falas dos Piquenses, que ele recolheu nos finais do ano de 1980, contando histórias de vida, das suas e dos outros, e outras "estórias" já com contornos esmaecidos pelo tempo que, no seu conjunto, reunem um acervo documental valiosíssimo.

Como Dias de Melo escreve na Nota de Abertura do Livro I "...as histórias que ouvi e os diálogos que mantive com gentes predominantemente do mar - baleeiros, pescadores, marinheiros dos iates, das lanchas de tráfego local, dos chamados barcos do Pico, das traineiras da pesca da albacora, actividade até certo ponto recente entre nós -, ou com gentes que, sendo mais da terra, me falaram principalmente do mar.

Disse baleeiros, pescadores, marinheiros dos iates, das lanchas de tráfego local, dos chamados barcos do Pico. Também aqui é difícil, mesmo impossível, destrinçar. Quase sempre, para não dizer sempre, o baleeirao é (era, que a baleia está a dar as últimas) simultaneamente pescador, marinheiro dos iates, das lanchas de tráfico local, das traineiras - ou passava de uma para outra destas actividades. Por isso o virem as histórias e diálogos da baleia, da pesca, etc., muitas vezes misturadas."

"(...,que a baleia está a dar as últimas)...", escreveu Dias de Melo em 1980. E tinha razão. Em 1984, (quatro anos depois destas entrevistas) acabou oficialmente a caça à baleia em Portugal, embora só em 1987 se tivesse deixado de praticar a "caça" à baleia em Portugal, tendo o último cachalote sido caçado naquele ano, ao largo da vila das Lajes do Pico.

Dias de Melo, em Novembro de 1980, entrevistou o Mestre Francisco Brum Simas (que era mais conhecido por Mestre Pé-Leve), que nasceu em 02/07/1902 no Cais do Pico. Tinha na altura 78 anos.

Em 1990, durante uma estadia na ilha do Pico, tive a honra de gravar uma entrevista em vídeo com Mestre Pé-Leve (na altura já com 88 anos), durante um fim de semana em que fui convidado para um "caldo de peixe" à moda da Madalena, com "verdelho", numa adega para os lados da Criação Velha. Lamentavelmente, a gravação da entrevista está em "parte incerta"! No entanto, "sobrou" uma fotografia do pré-acontecimento.

28-À conversa com baleeiros. Lajes do Pico. Mestre Francisco Brum Simas (Pé-Leve) ao meu lado e outros baleeiros do Pico_05-90.jpg

 À conversa com baleeiros numa "taberna" no Cais do Pico(?) num sábado de Maio de 1990 por volta da hora do almoço, na véspera do "Caldo de Peixe"

Eu estou sentado à direita da fotografia e, logo ao meu lado, o senhor com blusão de cabedal castanho era o Mestre "Pé-Leve". Digo era porque, se a minha memória não me falha, acho que faleceu em 1992. O resto do pessoal, com excepção do taberneiro, eram todos baleeiros. O que está sentado à mesa, com casaco cinzento e calças claras, era um camarada de longa data do Mestre Brum Simas do qual, lamentavelmente, já não me lembro do nome. A relação entre os dois era bastante engraçada.  Possivelmente, dada a idade, mestre Simas já não tinha uma memória fresca. Quando contava uma "estória", podia contar com o "ponto" do amigo que o corrigia. Só que Mestre Simas não gostava e ralhava com ele. O amigo calava-se mas não deixava de o corrigir quando achava que a história estava mal contada. E durante o almoço do Domingo (que foi bastante concorrido e reuniu outros baleeiros entre mestres, remadores e trancadores), o amigo do Mestre Simas, nunca deixou de estar atento às necessidade dele pois Mestre Simas já não tinha a agilidade que lhe deu a alcunha de "Pé-Leve" e por vezes precisava de ajuda.

 

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"Na Memória das Gentes" 

Livro I - Volumes I, II, III

Dias de Melo 

 

 Colónias

 

Brasil

Antes e depois da Independência do Brasi, a baleação foi uma actividade económica existente no Brasil. Existem muitas fonte, mas ainda não decidi qual o ângulo de abordagem deste capítulo, mas como será um dos últimos post's, na altura decidirei. 

Angola

Angola teve uma indústria baleeira florescente nos anos 40 do séc. passado, na zona de Moçamedes ou Mossamedes, como se escrevia, mais concretamente na Praia Amélia.Também existe um manancial de informação (por vezes contraditória) sobre este assunto que procurarei aprofundar.

Moçambique

Linga-Linga é uma ponta que limita a norte a baía de Inhambane, que hoje é um dos paraísos turísticos de Moçambique. Em 15 de Março de 1911, foi feita uma concessão a John Bryde (que já se encontrava anteriormente no local), pela portaria nº 211, de uma área de 100.000 metros quadrados para a instalação de uma fábrica de transformação de baleias da "The Mozambique Whaling Company Limited" da Noruega. 
Também, pela Portaria nº 220 com a mesma data, é concedida uma área de 8.000 metros quadrados à "Inhambane Whaling Syndicate Limited" de Durban, para instalar uma fábrica similar. Embora já exista muito material, muito mais há que investigar.
 
Sobre a baleação em Moçambique, o ponto de partida será o artigo de Bartolomeu Rungo, publicado no nº 8 da revista "Arquivo" de Moçambique com o título "Subsídios para o Estudo da Indústria da Baleia em Moçambique".
 

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Boletim do Arquivo Histórico de Moçambique - nº 8

INHAMBANE

Outubro de 1990

 

Outras fontes serão usadas na medida das necessidades.

E assim se conclui o primeiro Post (constituído por 3 partes) sobre a baleação.

O próximo Post irá iniciar uma abordagem sobre a história da baleação no mundo.

 

Um abraço e...

Bons Ventos.