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Mar & Arte

Artesanato Urbano de Coisas Ligadas ao Mar (e outras)

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Artesanato Urbano de Coisas Ligadas ao Mar (e outras)

21.03.15

15 - Modelismo Naval 3 - Mini Caravela: Capítulo II - e... aproveitado de outra forma


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Caros amigos

 

(continuação) 

Sem garrafa, tinha duas hipóteses. Ou deitava o trabalho fora, o que me fazia doer o coração (para engarrafar, o barco é inútil já que não consegui arranjar nenhuma garrafa com medidas que se adaptassem à escala do mesmo e adaptá-lo a uma outra garrafa com outras medidas, era o mesmo que fazer outro de raíz), ou mudava de rumo e montava o barco como um simples modelo de modelismo naval.

Optei pela segunda hipótese. E já que o barco tem as velas desfraldadas, optei por o expor num pequeno diorama figurando o mar e não numa peanha (destino igual ao do clipper da minha primeira tentativa falhada de engarrafamento de barcos).

Mudei de rumo! Fiz uma oferenda a Poseidon e...

Colei as diferentes secções, montei mastros, vergas, velas, o aparelho fixo e de manobra, os diferentes apetrechos e o resultado é este:

 

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Caravela latina de três mastros (c. finais do século XVI)

Escala aproximada de 1:160                        A.C.F. 2015

 

A mini-caravela ficou com as seguintes medidas:

Comprimento entre perpendiculares - 11 cm

Comprimento total - 13 cm

Altura (da base da quilha - sobressano - ao topo do lais da verga do mastro da proa) - 11 cm

Boca - 4 cm

 

Para modelar o casco do barco usei madeira de mogno e contraplacado de 1m/mm para o tombadilho, convés, balaustradas e amuradas.

Os mastros, vergas, escadas de portaló e de acesso ao tombadilho bem como as mesas de amarração de cabos, bomba de água, cabrestante, âncoras, canhões, cana do leme (que se encontra dentro do habitáculo da popa), escotilhas e os moitões e bigotas, foram feitas em madeira de cerejeira.

As velas são de pano de linho (o tecido do pano de treu), o barco foi pintado com tinta acrílica (a cor do casco tenta ser o mais aproximada possível da que realmente estes barcos tinham, já que eram calafetados e preservados com breu) e todas as partes de madeira foram protegidas com verniz de água mate, cor de mogno. 

Os cabos foram montados com linhas compradas na "loja do chinês" que se revelaram com uma óptima relação bitola/resistência, para já não falar no preço. Os cabos fixos foram montados com linha preta com maior bitola e os de laborar com linha branca de menor bitola.

Mas o melhor é "verem uma descrição".

 

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1 - Caravela vista por estibordo

 

 

 

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2 - Caravela vista por bombordo

 

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3 - Vista por bombordo do convés da proa

Destaque para a âncora espatilhada, o cabrestante, a escotilha do paiól dos cabos das âncoras, o bote de apoio que se encontra alojado no convés, um dos canhões de proa que se encontra a "espreitar" na amurada (o outro vê-se na amurada de estibordo), as mesas de amarração dos cabos de manobra das velas (a bombordo e também a estibordo) e as bigotas das enxárcias. 

 

 

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4 - Convés a meia nau visto por estibordo

De notar a escotilha de acesso ao porão, bigotas e moitões e, logo por detrás, a bomba de escoamento de água do porão.

 

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 5 - O tombadilho do castelo de popa

Com os cabos do aparelho de manobra enrolados em aduchas (no tombadilho, cabo de elevação da verga do mastro da mezena enrolado em aducha à inglesa e, pendurados das mesas de amarração situadas nas balaustradas, em aduchas simples os cabos de manobra das velas e da verga)

 

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 6 - O tombadilho visto de estibordo

Pode-se observar a porta do leme que tem a respectiva cana alojada no interior do habitáculo do castelo de popa, a escada de portaló, as duas janelas do habitáculo e uma das oito aberturas para escoamento da águas do convés em tempo de borrasca. O cabo que se encontra amarrado na balaustrada e que parece estar fora de sítio, é uma adriça que serve para içar e colher a flâmula que está pendurada da ponta do penol da verga do mastro da proa. Estas flâmulas começaram a ser usadas a partir de meados do século XVI e identificavam o proprietário do navio ou o seu comandante.

 

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7 - Vista de conjunto de bombordo, da proa para a popa, que engloba os diferentes pormenores já descritos

 

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8 - Vista de estibordo da proa com os pormenores já descritos.

De assinalar o capelo (parte superior da roda de proa) que tinha normalmente nas caravelas latinas este feitio, embora pudesse por vezes variar ao sabor da veia artística do construtor. Também existia a tradição (mediterrânica), que ainda hoje é seguida nos países mediterrânicos (Portugal incluído - vê-se muito em pequenos barcos de pesca de boca aberta) de pintar um olho em cada uma das faces da amurada junto à roda de proa. Optei por não pintar.

 

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9 - A porta do leme, o cadaste, parte da quilha, o cintado e o painel de popa.

Nesta época, já deveriam ser bastante raras as caravelas latinas com popa redonda. Embora a data de introdução do painel de popa na construção naval em Portugal não esteja precisamente determinada, foi seguramente antes do final do século XVI. Esta é uma das polémicas interessantes de seguir pois prova que, á luz do conhecimento existente numa determinada época, muitas vezes se fazem afirmações definitivas nessa época que, no futuro, são interpretadas como dogmas e esquecemo-nos que o conhecimento evolui e, muitas vezes, são feitas descobertas arqueológicas, documentais e iconográficas que contrariam esses dogmas. Pô-los em causa não é mais do que rever conceitos e afirmações à luz dos conhecimentos actuais. Não é pôr em causa os seus autores que mais não fizeram do que interpretar as fontes que existiam na altura.

 

 

 Depois do bota-a-baixo

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10 - Já montada como diorama

Pu-la a navegar com vento a quartel por bombordo e mar de carneiradas, para a viagem ser agradável!? Possivelmente a subir a costa de Moçambique a caminho da India!

 

 

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 11 - Como Poseidon vê a caravela

 

 

Bons ventos.

Até à próxima.